Professor brasileiro da Universidade Columbia, Paulo Blikstein crítica o fato de considerarem o ensino digital inovador
É uma enganação acreditar que o ensino digital é uma inovação. O alerta é de Paulo Blikstein, diretor do TLTL (Transformative Learning Technologies Lab) da Universidade Columbia, EUA, o qual acredita que a educação brasileira está sendo conduzida de forma equivocada, principalmente neste um ano de pandemia.
Professor, escritor e pesquisador em novas tecnologias para a educação, Blikstein destaca que na primeira metade do século 20 vendeu-se a ideia de uma grande inovação educacional: o livro didático. O discurso dizia que ele permitia ao aluno estudar no próprio ritmo e não no ritmo da sala de aula, da aula expositiva, que libertaria os alunos das amarras da opressão da sala de aula. E o que aconteceu? O livro didático foi absorvido pela aula tradicional e pelo sistema escolar e virou mais uma ferramenta de ensino. Na opinião dele, a modalidade remota pode ser só uma nova forma de fazer a mesma coisa e, muitas vezes, pior.
“O ensino remoto é uma medida emergencial, não é uma inovação. A inovação é quando o professor, ao invés de dar uma aula expositiva de ciências, faz um experimento de ciências; ao invés de ensinar história como uma sequência de fatos e datas, o professor ensina de uma forma problematizadora, dialógica e dialética. A inovação na educação acontece quando a pedagogia muda, quando a concepção de ensino muda. O ensino sempre será inovador se a pedagogia for excelente”, diz Blikstein.
Para o especialista, o Brasil precisa pensar em projetos de longo prazo, com fundamentos pedagógicos consistentes que melhorem o ensino e a aprendizagem de seus estudantes. “O sistema educacional no Brasil vem experimentando teorias com ares de inovação. Habilidades socioemocionais, metodologias ativas e o ensino híbrido são modismos que se esgotam rapidamente e desorientam todo o sistema educacional”, afirma.
Em transformação
“No dia 16 de março de 2020 recebi mensagem de que não deveria ir ao Colégio Equipe dar minha aula de matemática”, lembra o professor Carlos Matumoto. Era o início da pandemia. Na mesma hora, segundo ele, pegou no violão, criou um poema sobre a aula a ser dada e gravou um vídeo. “Eu tinha que criar uma videoaula e então me veio a lembrança de dois alunos, filhos de alemães, e que durante uma aula falei algumas palavras em alemão e eles traduziram aos colegas. Foi um alvoroço na sala de aula”, conta o professor, cuja ideia, segundo o mesmo, deu certo.
Foi a partir dessa lembrança/brincadeira que o docente começou a criar os personagens que deram vida às videoaulas e tomaram corpo durante o ensino remoto. Além de professor, Matumoto é músico, “poliglota”, poeta e cantor e deu vida aos seus personagens caracterizados. “O professor japonês é quem dá as aulas de medidas e comprimentos. Carl Mats é o professor alemão e dá as aulas de álgebra e aritmética. O professor Calibral ensina geometria. E ainda tem o professor francês Charles Quiacertô, que fala sobre as transformações de unidades e medidas”, conta.
Para ele, a estratégia dos personagens e as paródias cantadas com violão, quebrou a monotonia do ensino a distância. “Com os personagens, consegui chamar a atenção deles para a língua dos povos. Os alunos se sentem desafiados a compreender o sotaque e traduzir as frases ditas nas línguas, e consequentemente, se apropriam do conteúdo aprendido”, destaca.