Pesquisador usa Inteligência Artificial para estimular a consciência social de jovens da Favela da Rocinha

Pesquisador usa Inteligência Artificial para estimular a consciência social de jovens da Favela da Rocinha

Pesquisador no TLTL – Transformative Learning Technologies Lab. da Universidade de Columbia, Fábio Campos, está desenvolvendo um projeto com jovens estudantes da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, utilizando a Inteligência Artificial para promover a formação crítica e cidadã desses jovens, abordando temas como educação política e consciência social.

O projeto surgiu a partir da preocupação de Campos com o modelo de “escola cívico-militar”, que não prioriza o estudante autônomo e criativo. Inicialmente desenvolvido na Califórnia, onde Campos trabalhou com filhos de imigrantes da Guatemala, o projeto foi adaptado para a realidade da favela da Rocinha, em parceria com a Biblioteca do Estado do Rio de Janeiro. Os jovens são encorajados a imaginar uma Rocinha diferente, onde questões como raça, gênero e inclusão são abordadas de maneira criativa e transformadora.

“Tive de adaptar bastante os workshops e a experiência tem sido maravilhosa.  Venho trabalhando a imaginação deles, o que eles imaginam para a Rocinha ser diferente. Eu não deixo nem a imaginação correr solta, porque isso poderia perder a capacidade crítica, e não deixo só a criticidade correr solta, para que imaginem coisas novas. Eu tento trabalhar nessa tensão, que é você ser extremamente crítico com a sociedade e com desafios sociais, mas imaginando como as coisas podem ser diferentes”, conta Campos.

Através da Inteligência Artificial, Fábio incentiva os jovens a criarem contos fantasiosos com a exigência de que essas histórias contenham desafios sociais. As ideias são inseridas na IA, que gera imagens relacionadas, resultando em uma experiência de aprendizado cívico-crítico. Através dessa dinâmica, os jovens discutem e refletem sobre questões como diversidade, identidade e justiça social.

“Os alunos inventaram uma escola em que o mundo está invertido. Se o normal do mundo real é ser hétero, no mundo criado por eles, ser hétero é o fora da regra”, diz Fábio Campos. A partir das suas ideias, os alunos inserem suas criações na IA e inventam fotografias. Segundo o pesquisador, o processo é semelhante a uma oficina de roteiro, só que a conclusão não é uma história, e sim, um grande aprendizado cívico e crítico.

Outra atividade desenvolvida no projeto é a criação de imagens que apresentam soluções para problemas enfrentados pela comunidade, como a questão do lixo. Os jovens são incentivados a imaginar alternativas sustentáveis e inovadoras, utilizando a IA como uma ferramenta para transformar essas ideias em realidade. 

“Para essa atividade escolhemos o tema do lixo. Os alunos falam bastante sobre o quanto mata pessoas, entope bueiros e causa desabamentos e doenças. Então, criaram uma série de imagens com IA de como o lixo poderia ser tratado. Essas imagens carregam a semente de uma solução possível. Inventaram mãos robóticas que separam o lixo em cima do bueiro, um tubo que corre na favela e despeja o lixo lá embaixo e um lago no meio da comunidade”, conta Campos.