Neurociência na educação: Promessa ou exagero? 

Neurociência na educação: Promessa ou exagero? 

O Ministério da Educação (MEC) anunciou que premiará escolas e estudantes com desempenho destacado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, conforme reportagem do Estadão publicada em 4 de abril. Esta iniciativa surge em um contexto em que se observa uma diminuição no número de participantes do Enem nos últimos anos, fenômeno que o Ministro da Educação, Camilo Santana, atribui à ausência de motivação local. 

Entende-se que motivar estudantes é um fundamento essencial para a qualidade educacional, um princípio que encontra eco na crescente discussão sobre a aplicação da neurociência em ambientes de aprendizagem. Esse debate acalorado entre especialistas da educação envolve tanto pesquisas promissoras quanto críticas relativas à falta de evidências sólidas, a uma perspectiva redutora do aprendizado humano e a dilemas éticos sobre a privacidade dos estudantes. 

Apesar desses desafios, a abordagem encontra defensores firmes que veem na tecnologia uma ferramenta capaz de oferecer insights preciosos aos educadores, facilitando a compreensão dos processos de aprendizagem dos alunos e permitindo o desenvolvimento de métodos de ensino mais eficazes e personalizados. 

Um desses defensores é Márcio dos Anjos, conhecido como Cazé, Coordenador do Ensino Médio no Colégio Magno, em São Paulo. Cazé, um ávido estudioso da neurociência aplicada à educação, relata que sua jornada começou ao identificar que dificuldades de aprendizado de seus alunos frequentemente tinham raízes emocionais. “Percebi que, apesar de capazes, alguns estudantes se debatiam com a ansiedade e não conseguiam apresentar o desempenho esperado nas avaliações. Isso me levou a mergulhar nos estudos da neurociência para entender como o cérebro processa e retém informações,” explica. 

 O foco de Cazé na importância das emoções no aprendizado o guiou a implementar estratégias educacionais que promovem o engajamento emocional dos alunos em um ambiente propício. Ele destaca a motivação intrínseca como um pilar fundamental para um aprendizado mais significativo e duradouro em comparação à motivação extrínseca. “Iniciativas que despertam a curiosidade e incentivam a busca autônoma do conhecimento são essenciais. No Colégio Magno, complementamos a educação tradicional com atividades que favorecem o bem-estar emocional, como aulas de yoga e meditação, fortalecendo a saúde mental e estimulando um ambiente de aprendizado positivo,” detalha. 

Cazé também ressalta a importância da atividade física, incluindo a escrita manual e exercícios, no desenvolvimento cognitivo e no reforço das conexões neurais, evidenciando a abordagem holística que reconhece a interdependência entre corpo e mente para promover um estilo de vida saudável e, por consequência, um melhor desempenho acadêmico. 

Cazé observa benefícios concretos das estratégias no ensino-aprendizado, mesmo com desafios junto ao corpo docente. “Nossos alunos obtiveram resultados excelentes nos vestibulares de universidades públicas. É um bom indicador, e um dos maiores ganhos é o engajamento que tiveram na construção dos projetos de iniciação científica, que permitiu a escolha do tema de interesse, conduzindo  pesquisas e construindo o conhecimento de forma ativa”, afirma, destacando o impacto positivo das iniciativas.