Nas manhãs de sábado, quando milhares de jovens atravessam os portões da USP ou da Unicamp em busca de respostas sobre o futuro, a ansiedade sobre “o que vou ser” mostra sua força. Em 2024, o Unicamp de Portas Abertas reuniu mais de 57 mil visitantes em um único dia, recorde histórico. Se antes a escolha profissional se resumia a um teste vocacional ou a uma feira anual, hoje as escolas privadas estão redesenhando esse percurso como uma construção gradual, que envolve autoconhecimento, diálogo com famílias e vivências concretas no mundo do trabalho.
No Centro Educacional Pioneiro, por exemplo, a orientação não é um momento isolado: atravessa todo o ensino médio nas aulas de Projeto de Vida. “Não é suficiente que o estudante esteja preparado para enfrentar os exames se ele não sabe o que quer prestar”, afirma Carol Vendramini, orientadora educacional. O Fórum de Profissões, com dezenas de convidados de diferentes áreas, amplia repertórios, enquanto conversas individuais ajudam a elaborar dúvidas e medos. “Quanto mais informação o estudante tiver, menor é o medo de não se identificar com a carreira escolhida.”
Essa mesma preocupação aparece no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde, segundo a orientadora educacional Cláudia Tozzi, o dilema está em escolher cedo demais. “É comum ouvir dos jovens a preocupação em ter que decidir aos 17 ou 18 anos algo para sempre.” Para ela, cabe à escola mostrar que a graduação é apenas o começo de uma trajetória que se transforma ao longo da vida adulta.
No Vera Cruz, a proposta ganha contornos singulares: desde o 9º ano, os alunos entram em contato com itinerários formativos e passam a refletir sobre critérios pessoais para decidir seus caminhos. A coordenadora pedagógica Ana Bergamin destaca a importância das experiências com famílias da comunidade escolar. “Contamos com a riqueza da diversidade: familiares recebem nossos alunos em seus locais de trabalho e proporcionam conversas e vivências de aproximação do universo profissional.” Esses encontros funcionam como uma espécie de estágio de observação, somados a visitas a universidades e trocas com ex-alunos. “Em tempos de imediatismo, o desafio é ajudar o jovem a sustentar ideais sem idealizar a realidade.”
Já no Colégio Magno, a diretora Claudia Tricate defende a experimentação como eixo central. “Os meninos podem optar e fazem opções múltiplas porque adolescente precisa experimentar.” Ali, itinerários formativos convivem com mentorias individuais e o programa Biruta, em que especialistas externos ajudam a mapear interesses e competências. A escola também promove encontros com profissionais de áreas pouco conhecidas das famílias e fóruns com a participação de pais voluntários. “Eles não querem mais olhar para profissões só porque são bonitas ou importantes. Muitas vezes escolhem coisas que os adultos nem conhecem, mas que para eles são muito significativas.”
O Colégio Equipe aposta no protagonismo dos próprios estudantes: o Dia da Informação Profissional é planejado e conduzido pela 2ª série, que define áreas, escolhe convidados e comanda mesas temáticas. “Esse espaço vai além da escolha de carreira. Ele promove reflexões sobre o processo de aprender e crescer coletivamente”, afirma a diretora escolar Luciana Fevorini. A escola mantém ainda encontros com ex-alunos cinco e dez anos após a formatura, criando um elo intergeracional que retroalimenta o programa.
Cada instituição aposta em caminhos distintos. Fóruns organizados por alunos, vivências em ambientes de trabalho de familiares, acompanhamento individualizado, experimentação múltipla, mas todas partem de uma mesma ideia: a orientação profissional precisa ser parte estruturante da formação. Ao entrelaçar experiências, informação de qualidade e espaços de escuta, as escolas deslocam a pergunta angustiante do “o que vou ser” para uma reflexão mais potente: “quem eu quero me tornar e como quero estar no mundo”.