Escolas particulares aprovam banimento de celular, mas pedem cautela e apoio dos pais

Escolas particulares aprovam banimento de celular, mas pedem cautela e apoio dos pais

Matéria publicada na Folha de SP em 13/11/2024

Deputados de SP aprovaram, por unanimidade, medida para todas unidades de ensino do estado; Executivo deve regulamentar implementação

Instituições de ensino privadas apoiam a decisão unânime da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) de aprovar projeto de lei que bane celular em instituições de ensino do estado, tanto em aulas como nos recreios e intervalos. Mas há temor sobre a implementação.

“Muitas escolas já adotam um critério para a eliminação gradual do celular nas escolas, a minha inclusive. Os resultados têm sido positivos”, diz José Antonio Figueiredo Antiório, diretor do Colégio Padre Anchieta e presidente do Sieeesp, sindicato das escolas particulares de São Paulo.

“Falta interação entre os alunos, e, para mim, é onde a medida é mais benéfica”, argumenta.

A imagem mostra um grupo de pessoas em pé, aparentemente esperando, enquanto usam seus smartphones. Em primeiro plano, uma mão segura um smartphone. Ao fundo, outras pessoas estão visíveis, algumas com os olhos voltados para seus dispositivos móveis.
Estudante usam o celular antes da prova do Enem em São Paulo – Eduardo Knapp – 3.nov.2024/Folhapress

Porém, a posição oficial da entidade é de cautela. Eles aguardam a sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Da nossa parte, vamos fazer uma assembleia de como implementar a medida nas escolas. Precisa ter consenso entre escola, família e aluno, senão não anda.”

Pelo texto aprovado, o Executivo vai definir no ato da regulamentação como será esse processo, mas o aluno não poderá ter acesso ao aparelho. O projeto também determina que sejam criados canais de comunicação acessíveis para os pais entrarem em contato com as escolas.

A Camino School, que já proibia o celular totalmente desde 2020, diz concordar com a lei e acreditar que esta regra precisa valer para todas as escolas do país. “O resultado de uma escola sem celular são alunos mais conectados entre si e mais dedicados aos estudos”, diz Leticia Lyle, diretora da Camino School.

“É bem-vinda a decisão. Trata-se de um movimento orientador, em um ambiente que faltava regulação estatal”, afirma Daniel Helene, coordenador pedagógico da Escola Vera Cruz. “O projeto de lei também acerta ao não reproduzir o equívoco de que o problema dos celulares é das escolas. É algo muito maior, e as escolas ajudam a pautar.”

Segundo ele, o Vera Cruz está vivendo um experimento sem celulares “sem crises”. A estratégia que eles usaram foi convidar os alunos para a roda de conversa, para que eles participem das decisões de como seria a implementação.

“Todas as pesquisas indicam o impacto favorável que o banimento causa, e, por isso, sou favorável. Porém, é importante notar que a tecnologia, sob orientações dos professores, é um recurso importante para a pedagogia”, diz Wagner Borja, diretor da Escola Nossa Senhora das Graças. Lá, alunos a partir do ensino fundamental 2 devem depositar o celular em caixas antes da aula.

O projeto define que o uso de aparelhos eletrônicos é permitido para fins pedagógicos ou didáticos, conforme orientação dos profissionais de educação. A lei fala em proibição de “aparelhos eletrônicos portáteis pessoais, inclusive telefones celulares”, mas não especifica o uso de tablets.

Esses impasses causam receios. “Proibir o uso de dispositivos na educação é problemático, pois uma proibição é uma medida generalizadora e traz desafios de implementação”, diz Claudia Tricate, diretora do Colégio Magno.

“A lei apenas decreta a restrição, mas não fornece diretrizes práticas, deixando para as escolas a responsabilidade de cumprimento, sobrecarregando professores e dificulta a gestão.”

É um avanço, mas não resolve o problema por si só, segundo Ana Cristina Dunker, diretora da Carandá Educação. “É crucial regulamentar o uso das redes sociais e o acesso à internet para essa faixa etária, algo que está em discussão no Senado”, diz.

Além disso, como propõe o Movimento Desconecta, é necessário que a sociedade, incluindo as famílias, reflita sobre a oferta de celulares e ensine o uso consciente, diz Dunker.

Para Angela Fonseca, diretora pedagógica do Colégio Guilherme Dumont Villares (GDV), a proposta aprovada nesta terça-feira na Alesp reforça a importância de promover um ambiente escolar que priorize a concentração dos alunos e o estímulo à interação.

“A escola foi pioneira ao adotar medidas de restrição ainda em 2018 e vem implantando as medidas restritivas de uso até os dias de hoje”, afirmou.

Segundo ela, com essa regulamentação, a norma ganha legitimidade, o que facilita sua aceitação por parte dos alunos e famílias. “Observamos que nossos alunos têm demonstrado maior envolvimento e concentração nas aulas, o que contribui para uma experiência de aprendizado mais enriquecedora. O tempo que antes era despendido com orientações sobre o uso inadequado de celulares foi reduzido, assim como as medidas disciplinares.”