Fale conosco no WhatsApp

Menos telas, mais trocas: escolas observam impactos da proibição do celular no dia a dia dos alunos

Menos telas, mais trocas: escolas observam impactos da proibição do celular no dia a dia dos alunos

Com o retorno às aulas e a proibição do uso de celular em sala já em vigor em todo o Brasil, as escolas privadas começam a observar os primeiros impactos dessa mudança na rotina dos alunos. A medida, que visa melhorar a concentração e a interação social, tem gerado diferentes reações entre estudantes, professores e gestores.

A proibição está alinhada às demandas identificadas pelo Ministério da Educação (MEC) no Relatório Nacional da Semana da Escuta das Adolescências, divulgado na última semana. Segundo o documento, que ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes, os adolescentes valorizam a escola como espaço de socialização, trocas afetivas e colaboração. O levantamento reforça que projetos coletivos, ações culturais e esportivas dentro do currículo são essenciais para fortalecer o engajamento dos jovens na escola – aspectos que podem ganhar ainda mais relevância sem a distração das telas.

As escolas privadas têm observado impactos positivos significativos na rotina dos alunos. No Colégio Magno, a diretora Claudia Tricate destaca que a ausência de celulares tem promovido um ambiente mais focado e colaborativo. “Observamos que os alunos estão mais engajados nas atividades escolares e participam ativamente das discussões em sala de aula”, afirma. A instituição implementou Acordos Educativos para assegurar o uso responsável da tecnologia, permitindo dispositivos como notebooks e tablets exclusivamente para fins pedagógicos.

 No Centro Educacional Pioneiro, a medida foi adotada com a instalação de caixas com escaninhos individuais dentro das salas de aula, onde os alunos depositam seus celulares ao chegar e só os retiram ao final do período. “A reação dos alunos foi surpreendentemente tranquila. Não houve resistência significativa e percebemos um aumento na socialização”, afirma Mário Fioranelli, coordenador pedagógico da instituição.

Já no Colégio Equipe, a diretora Luciana Fevorini também relata uma recepção positiva dos alunos. “Desde o retorno às aulas, já sabiam que a proibição do celular era uma regra que ia além da escola. No geral, a adaptação foi mais tranquila do que o esperado”, destaca. Ela observa que houve um impacto direto na socialização: “Agora, não se vê mais grupos sentados olhando para a tela do celular. Os alunos passaram a realizar outras atividades nos intervalos, o que estamos estimulando com novas opções de entretenimento”.

A adaptação dos professores também tem sido um ponto de atenção nas escolas. No Centro Educacional Pioneiro, a equipe docente apoiou integralmente a mudança e passou a não utilizar celulares dentro da sala de aula, como forma de dar exemplo. “A escolha foi feita para fortalecer a cultura da ‘desconexão’ no ambiente escolar”, explica Fioranelli. No Colégio Equipe, a necessidade de ajustes no planejamento pedagógico foi um dos principais desafios. “Professores que utilizavam celulares para pesquisas e atividades tiveram que readequar as estratégias. No curso de cinema, por exemplo, os alunos costumavam gravar vídeos no celular, mas agora essa prática foi descontinuada”, pontua Fevorini.

Outra questão importante foi a reação das famílias. Para a direção do Colégio Magno  a adesão das famílias é essencial para o sucesso da medida e reforça a importância de orientar os alunos a deixarem seus celulares em casa, uma vez que não poderão usá-los dentro da escola. Já para o coordenador do Centro Educacional Pioneiro, Mario Fioranelli, a maior preocupação das famílias foi a perda da comunicação instantânea com os filhos. “Muitas estavam acostumadas a mandar mensagens perguntando se estava tudo bem. Para suprir essa necessidade, mantemos os canais da escola sempre abertos para ligações e mensagens urgentes”, explica. No Colégio Equipe, Fevorini complementa que, em alguns casos, os pais combinam com os filhos de mandar mensagens quando ainda estão na calçada, antes de entrar na escola.

A fiscalização da regra também varia entre as instituições. No Colégio Magno, o uso de celulares sem autorização pedagógica resulta em sanções, que podem variar de advertências ao recolhimento do aparelho e até suspensão, em caso de reincidência. No Colégio Equipe, a regra também é eficaz: “Caso um aluno seja visto utilizando o celular, ele é encaminhado à secretaria da escola. No caso dos alunos mais velhos, eles mesmos entregam o aparelho. Para os mais novos, o educador recolhe e deixa na secretaria. Em todos os casos, a família é informada”, explica Fevorini.

Para todas as escolas entrevistadas, a transição para um ambiente escolar sem celulares tem mostrado impactos positivos no comportamento dos alunos. A atenção em sala de aula aumentou, e as interações entre os estudantes ganharam força. O desafio agora, segundo as instituições,  é consolidar essa mudança na cultura escolar e garantir que os benefícios, como maior concentração em sala e fortalecimento das relações interpessoais, se tornem permanentes.