O papel é o formato. O importante é o texto!
Essa é uma afirmação do filósofo tunisiano Pierre Lévy sobre o uso da tecnologia no mundo contemporâneo. O estudioso da comunicação desde a era socratiana afirma que a evolução cultural – educação, economia, social e etc. – da humanidade acontece a partir do momento que saberes são aprendidos e compartilhados.
Com um pensamento alinhado ao de Lévy, o professor Paulo Blikstein, diretor do TLTL – Transformative Learning Technologies Lab da Universidade de Colúmbia (EUA), chama a atenção para a forma equivocada que está sendo conduzida a educação no Brasil, principalmente neste último ano da pandemia. Para ele, o Brasil está se enganando ao acreditar que o ensino digital é uma inovação.
Blikstein destaca que na primeira metade do século 20 vendeu-se a ideia de uma grande inovação na educação: o livro didático. O discurso dizia que ele permitia ao aluno estudar no próprio ritmo e não no ritmo da sala de aula, da aula expositiva. O livro didático iria libertar os alunos das amarras da opressão da sala de aula. E o que aconteceu? O livro didático foi absorvido pela aula tradicional e pelo sistema escolar e virou mais uma ferramenta de ensino. Na opinião dele, o ensino remoto pode ser só uma nova forma de fazer a mesma coisa e, muitas vezes, pior.
“O ensino remoto é uma medida emergencial, não é uma inovação. A inovação é quando o professor, ao invés de dar uma aula expositiva de ciências, faz um experimento de ciências; ao invés de ensinar história como uma sequência de fatos e datas, o professor ensina de uma forma problematizadora, dialógica e dialética. A inovação na educação acontece quando a pedagogia muda, quando a concepção de ensino muda. O ensino sempre será inovador se a pedagogia for excelente”, diz Blikstein.
Para Blikstein, o Brasil precisa pensar em projetos de longo prazo, com fundamentos pedagógicos consistentes que melhorem o ensino e a aprendizagem dos estudantes brasileiros. “O sistema educacional no Brasil vem experimentando teorias com ares de inovação. Habilidades socioemocionais, metodologias ativas e o ensino híbrido são modismos que se esgotam rapidamente e desorientam todo o sistema educacional”, afirma.
Um professor inovador
“No dia 16 de março de 2020 recebi mensagem de que não deveria ir ao Colégio Equipe dar minha aula de Matemática”, lembra o professor Carlos Matumoto. Era o início da pandemia. Na mesma hora, segundo ele, pegou no violão, criou um poema sobre a aula a ser dada e gravou um vídeo.
“Eu tinha que criar uma videoaula e então me veio a lembrança de dois alunos, filhos de alemães, e que durante uma aula falei algumas palavras em alemão e eles traduziram aos colegas. Foi um alvoroço na sala de aula”, conta o professor. E a deixa deu muito certo!
Foi a partir dessa lembrança/brincadeira que o professor começou a criar os personagens que deram vida às videoaulas e tomaram corpo durante o ensino remoto. Além de professor, Matumoto é músico, “poliglota”, poeta e cantor e deu vida aos seus personagens caracterizados. “O professor japonês é quem dá as aulas de medidas e comprimentos. Carl Mats é o professor alemão e dá as aulas de Álgebra e Aritmética. O professor Calibral ensina Geometria. E ainda tem o professor francês Charles Quiacertô, que fala sobre as transformações de unidades e medidas”, conta.
Para ele, a estratégia dos personagens e as paródias cantadas com violão, quebrou a monotonia do ensino à distância. “Com os personagens, consegui chamar a atenção deles para a língua dos povos. Os alunos se sentem desafiados a compreender o sotaque e traduzir as frases ditas nas línguas, e consequentemente, se apropriam do conteúdo aprendido”, destaca.
Cecilia Galvão/Jornalista/diretora – (11) 97654.2027