Levantamento de dirigentes municipais de ensino mostra que 95% dos 3.672 municípios consultados afirmaram ter dificuldades em usar a internet na educação a distância.
Uma pesquisa de secretarias municipais de ensino concluiu que os alunos da educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental foram os mais afetados por não irem à escola na pandemia.
A descoberta do dia foi a letra “H”. Não é só o conteúdo que fica diferente na aula presencial. Os alunos, rodeados de sons, expressões e reações dos coleguinhas – estímulos que fazem os estudantes se desenvolverem – que eles não tiveram por muito tempo por causa da pandemia.
“Acho que as crianças pequenas, da educação infantil, tiveram um impacto muito grande porque nesse período elas estão desenvolvendo coordenação motora, sociabilidade, equilíbrio, a fala, a compreensão. Já aquelas crianças que estão no processo de alfabetização, é um modelo de aprendizagem muito específico, que exige uma presença do professor e exige também uma interação com os colegas”, explica Alexandre Schneider, presidente do Instituto Singularidades.
Mas com a necessidade de as escolas manterem as medidas de distanciamento, alunos como o Gabriel seguem o ano letivo de 2021 como terminaram o de 2020. Ele ainda aprende em material impresso e mensagens trocadas pela mãe, Fernanda, com a professora.
“Eu conversei esses dias com uma professora, passei um pouco de como ele está do estágio, ela falou que ele está pré-alfabetizado. Então, ainda não concluiu o processo de alfabetização. Infelizmente, a gente não tem tanto tempo para dedicar e também não tem formação para isso”, contou Fernanda Souza, psicóloga e mãe de Gabriel Pereira, de 7 anos.
Um levantamento de dirigentes municipais de ensino mostra que 95% dos 3.672 municípios consultados afirmaram ter dificuldades em usar a internet na educação a distância.
Os estudantes dos primeiros anos do ensino fundamental representam 40% dos 5 milhões perderam o contato com a escola em 2020, segundo o Unicef.
Autoridades e especialistas consideram que alunos dos anos iniciais do ensino básico não podem mais esperar pelo fim da pandemia para voltar a ter atividades escolares. Eles defendem um plano nacional, com orçamento específico, e que envolva várias áreas como assistência social e esportes, a serviço do ensino das crianças.
“A escola não vai conseguir resolver esse problema sozinha. Então, é preciso que a gente tenha uma estratégia em todo os níveis – governo federal, governos estaduais e municipais – para apoiar essas crianças e suas famílias. Existem espaços físicos das prefeituras que podem ser utilizados por crianças que não têm onde estudar em casa, que moram em habitações vulneráveis. É preciso que a sociedade abrace a educação”, enfatiza Schneider.
A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação diz que é preciso fazer uma avaliação do aprendizado e, a partir dela, construir um programa de atendimento aos alunos, inclusive fora do horário de aula. A ideia é aumentar o número de espaços que garantam o aprendizado com segurança, enquanto não se atinge a vacinação em massa.
“Esse programa tem que juntar esforços, tem que unificar as ações, buscar projetos desenvolvidos em regime de colaboração, união de estados e municípios. Por exemplo: se tem um ponto em que o país precisa investir e vale a pena investir recursos para ampliar o contato do aluno com as questões de aprendizagem”, afirma Luiz Miguel Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação.
A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo declarou que comprou 465 mil tablets para distribuir aos alunos.