Escolas passam a usar tecnologias do ensino remoto em sala de aula

Instituições implementam atividades em modelo híbrido e incorporam games e aplicativos no currículo

Plataformas digitais, aplicativos e games educacionais que foram incorporados pelas escolas com o ensino remoto devem continuar sendo utilizados mesmo com a volta das aulas presenciais.

A pandemia forçou o uso da tecnologia e acelerou transformações nas salas e nas metodologias de ensino. Na retomada, instituições já digitalizam seus materiais didáticos e implementam atividades em modelo híbrido.

O Centro Educacional Pioneiro, na zona sul de São Paulo, ampliou a capacidade do wifi e investiu aproximadamente R$ 150 mil em 60 Chromebooks (laptops mais simples e leves) para alunos do ensino fundamental.

Os equipamentos conectam estudantes em sala com os que permanecem em casa —o Pioneiro já retomou o ensino presencial, mas jovens do grupo de risco ou que estão com sintomas de gripe acompanham a distância.

Em sala, os estudantes podem acessar plataformas que foram descobertas durante a pandemia. Nas aulas de geografia, por exemplo, o Atlas Geográfico foi substituído pelo GeoSampa, mapa digital da cidade de São Paulo com dados de infraestrutura urbana, vegetação e topografia.

“Percebemos que a maioria das aulas já está sendo planejada com o Chromebook, o que fica a critério de cada professor”, diz Mário Fioranelli Neto, coordenador pedagógico do ensino fundamental e de humanidades do Centro Educacional Pioneiro. “É uma estratégia dos professores para diversificarem as aulas.”

Além do investimento nos laptops, o Pioneiro vem optando por livros didáticos que podem ser visualizados também de forma online com ajuda de um código de acesso. A digitalização do material didático acabou respondendo a uma outra demanda de pais e alunos que se queixavam das mochilas pesadas, explica Neto.

O ex-secretário municipal de Educação de São Paulo e colunista da Folha, Alexandre Schneider, afirma que a tecnologia no ensino deve servir ao aprendizado, não apenas a um fetiche por inovação.

Segundo ele, a adoção de tecnologia tem de ser feita com propósito e com o que chama de planejamento reverso: os educadores precisam analisar qual é o melhor formato para transmitir determinado conteúdo, não procurar alternativas para um método preestabelecido.

“A tecnologia não necessariamente colaborou com a aprendizagem dos alunos. No ensino híbrido, crianças de grupos mais vulneráveis aprenderam menos que outras em aulas presenciais.”

No Colégio Equipe, na região central de São Paulo, atividades complementares deverão ser feitas a distância no pós-pandemia. Hoje, para garantir o distanciamento, a escola usa o modelo híbrido com rodízio entre alunos.

A tecnologia também tem sido usada pela escola para aproximar estudantes de especialistas que dificilmente participariam de eventos presenciais. Na pandemia, alunos do ensino médio acompanharam lives com o líder indígena Ailton Krenak e a escritora portuguesa Grada Kilomba.

Em uma atividade sobre orientação profissional, os estudantes conversaram com uma diplomata brasileira que atua na Colômbia. “Percebemos o quanto essas ferramentas são poderosas e perdemos o medo de conversar com alguém do outro lado do mundo”, diz Luciana Fevorini, diretora do Colégio Equipe. A escola deve seguir com as lives nos próximos anos.

Na Escola da Vila, que tem três unidades em São Paulo, alunos do ensino médio continuam usando a plataforma de streaming TamanduáEdu no retorno ao ensino presencial. A ferramenta disponibiliza filmes e documentários educacionais.

A ferramenta é acessada pelos alunos em casa, como complemento ao conteúdo transmitido em sala de aula. “Na plataforma, os alunos não ficam assistindo séries compulsivamente, mas aprendem a identificar e selecionar boas fontes para investigação”, afirma Cristina Maher, professora de filosofia e sociologia da Escola da Vila.

As técnicas de gamificação, que foram intensificadas na pandemia, estão sendo mais exploradas no retorno ao presencial. No Stance Dual, na região central de São Paulo, alunos passaram a usar o game Civilization (civilização, em português) para desenvolver conceitos sobre o surgimento das cidades e o papel do Estado. No jogo, os estudantes constroem civilizações que evoluem.

Os jovens também usam o espaço maker (salas convertidas em laboratórios) para criar o próprio jogo. “Observamos que alguns alunos voltaram à escola com habilidades tecnológicas e de programação altíssimas, em nível muito superior à de anos anteriores” , diz Juliana Caetano, coordenadora de tecnologia da Stance Dual.

Para estimular os alunos que têm mais dificuldade, a professora de matemática Silmara Rizzo, do Colégio Caetano Álvares, na zona norte de São Paulo, forma em sala de aula equipes equilibradas durante jogos com perguntas e respostas. As partidas têm ranking e, segundo ela, deixam os alunos mais engajados.

Nas disputas indivuais, somente Rizzo tem acesso ao desempenho dos alunos, o que evita a exposição dos que tiveram pior desempenho. “Utilizo a gamificação para saber o quanto os estudantes dominam determinado assunto”, diz a professora, que usa os games tanto no ensino remoto quanto presencial.

No ensino a distância, os professores precisam desenvolver metodologias diferentes das usadas nas aulas presenciais, diz Sandro Caldeira, especialista em neurociência em educação.

“O aluno pode acabar desmotivado quando há transposição exata do que foi feito em sala de aula para aula gravada”, afirma Caldeira. Por isso, ele diz ser importante, durante o ensino remoto, a combinação de elementos diferentes como fotos, games, vídeos ou músicas.

O ensino híbrido e o maior uso de computadores em sala, porém, acende um alerta sobre segurança de dados nas escolas, afirma Paulo Blikstein, professor da Universidade Columbia, em Nova York. Ele diz que hoje não há clareza sobre como companhias de tecnologia tratam as informações dos alunos.

“As empresas entraram nas escolas em um momento emergencial. Temos de implementar leis específicas para garantir que não haverá vazamento de dados, o que pode atrapalhar a vida dos jovens.”

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/09/escolas-passam-a-usar-tecnologias-do-ensino-remoto-em-sala-de-aula.shtml?origin=folha

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