Iniciativa busca mais espaço para as lideranças negras

Fundação Tide Setubal lança plataforma de apoio à formação

A Fundação Tide Setubal lança hoje uma plataforma que tem como objetivo formar e fortalecer pessoas negras e aumentar a diversidade racial em espaços de decisão. Com o nome Alas (Apoio ao Desenvolvimento de Lideranças Negras), a iniciativa contribui com aportes financeiros e oportunidades de aprendizagem para a população negra de todo o país em diferentes momentos da vida: escola, faculdade ou mercado de trabalho – para que se desenvolvam plenamente.

Dados do IBGE indicam que 56% dos brasileiros se autodeclaram negros ou pardos. Mas nas empresas o cenário é muito diferente, principalmente em posições de liderança. Levantamentos do Instituto Ethos mostram que nas corporações brasileiras apenas 4,7% do quadro executivo e 25,9% dos postos de supervisão são ocupados por negros. Nos cargos de mais alto nível do governo federal, a participação é de 25%. Negros representam menos de 1% entre advogados de grandes escritórios.

“Isso mostra que a caneta não está na mão da população negra”, diz Viviane Soranso, coordenadora do programa de raça e gênero da Fundação Tide Setubal. “Não à toa a nova plataforma Alas busca sensibilizar as pessoas físicas e jurídicas para uma mudança de cultura. Ela é um chamamento, é um convite para um movimento coletivo e amplo de mudança. No atual contexto do país, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.”

Nos últimos anos, a importância da representatividade vem ganhando força no mercado de trabalho, relata Soranso. “Trata-se de um avanço necessário e legítimo, quando sabemos que a população negra é a maioria do país, segundo dados oficiais, mas ainda convive diariamente com preconceito, discriminação e opressão estrutural, que os exclui de muitos direitos e oportunidades”, diz.

Mas é preciso ir além da representatividade. “É necessário ficarmos atentos e questionarmos como esses profissionais são de fato incluídos dentro desses espaços” afirma Soranso, que é psicóloga e ativista social com foco na inclusão de raça e gênero. O movimento mais abrangente inclui, entre outras questões, saber quais cargos estão ocupando, se suas ideias e opiniões são levadas em consideração e se possuem poder de decisão. “O processo de inclusão deve de fato permitir que esses profissionais tenham papel ativo e protagonista, eliminando as barreiras que geram a discriminação direta e indireta dos indivíduos e que limitam sua participação efetiva.”

Com o objetivo de sensibilizar pessoas físicas e jurídicas, a nova iniciativa da Fundação Tide Setubal tem três pilares estratégicos. O primeiro, Asas, atende jovens do ensino médio e recém-formados de 16 a 24 anos que passam por diferentes formações no intuito de inspirá-los para o exercício de liderança. O segundo, Elos, cria pontes entre lideranças e universidades para cursos de graduação ou mestrado ou espaços de formação para gestão pública, por exemplo. O terceiro, Caminhos, aprimora competências e habilidades das lideranças negras que já estão mais estabelecidas no mercado, financiando com até R$ 15 mil desde cursos livres, pós-graduações e intercâmbios até fonoaudiólogos e psicólogos, a depender da necessidade do candidato. A seleção é realizada por meio de editais que terão as informações disponibilizadas na plataforma.

Atualmente a iniciativa tem parceiros que participam com projetos – Vetor Brasil, Fundação Getulio Vargas (FGV), Instituto Singularidades, GOYN e Insper – e outros que a apoiam com recursos financeiros – Instituto Ibirapitanga, Open Society, Porticus América Latina e Imaginable Futures.

A FGV oferece bolsas, em que assume metade do pagamento das mensalidades, para cursos de graduação e mestrado. No Insper, há bolsas para cursinho preparatório para o vestibular e após a aprovação, os jovens concorrem ao programa de bolsas da instituição. O Instituto Singularidades oferece bolsas de graduação.

O Vetor Brasil está com inscrições abertas para suas bolsas do programa de trainee de gestão pública. Ainda em outubro, será lançado pela plataforma o edital Traços com apoios individuais de R$ 15 mil para fortalecer lideranças dos campos político e jurídico.

Pessoas físicas e jurídicas também podem participar da Alas doando para as campanhas de matchfunding da plataforma: www.plataformaalas.org.br/. As doações podem ser direcionadas para o fundo ou diretamente para uma das iniciativas, por meio do financiamento coletivo, realizado em parceria com a Benfeitoria. Para cada R$ 1 doado, o fundo Alas investe mais R$ 2 em cada ação. Além disso, 5% de tudo o que for captado via plataforma serão destinados para o Fundo Baobá, primeiro fundo no Brasil que promove a equidade racial no país.

Além de conectar pessoas negras a oportunidades e de oferecer recursos para o desenvolvimento em suas trajetórias, a Alas visa expandir sua atuação por meio da adesão de novos parceiros, com o foco na capacitação dos profissionais dessas organizações.

“A ideia é que, a cada novo apoiador da plataforma, um exercício de olhar da porta para dentro seja feito. Ou seja, estimularemos a reflexão sobre de que modo as instituições estão olhando para a diversidade no seu quadro de colaboradores. Se for uma universidade, no seu quadro de professores e assim por diante. Então, além da bolsa, esses parceiros precisam se comprometer internamente e se questionar: há pessoas negras em cargos de decisão nos nossos espaços?”, explica Soranso.

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/09/27/iniciativa-busca-mais-espaco-para-as-liderancas-negras.ghtml

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