Ódio, nazismo, racismo, cyberbullying – como as escolas estão reagindo?
Mensagens de ódio, neonazistas, racistas, homofóbicas e ciberbullying nas escolas, nas redes sociais e em grupos de whatsapp estão preocupando muito pais e gestores. A geração de estudantes está cada vez mais ligada nas redes sociais, onde não há filtro para estes discursos de intolerância. O uso exacerbado da internet demanda uma discussão mais profunda sobre determinados temas, como empatia e “lugar de fala”. Para mudar este quadro, diversas instituições de ensino estão assumindo um compromisso pedagógico antirracista, com ações em defesa da uma educação para a diversidade e alertando para a importância dos pais acompanharem com atenção os filhos no mundo virtual.
Na escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, mães, pais, professoras e outros funcionárias criaram o movimento “Gracinha Antirracismo”, que tem como principal objetivo o letramento racial da comunidade escolar. Existe um trabalho específico para abordar temas antirracistas em uma escola formada majoritariamente por brancos. “O trabalho de humanização do negro é fundamental, temos que fazer também com que esse aluno branco reconheça sua branquitude. Para esse aluno temos que falar sobre a branquitude e os privilégios que ela carrega. Os meus alunos, brancos, ricos, não tem culpa da existência de alunos negros pobres e sem condição mínima de sobrevivência. Como o aluno branco pode auxiliar no combate ao racismo estrutural? Existe um mínimo que pode ser feito, no microuniverso que aquele aluno branco vive. Eles podem ser formadores de opinião na humanização dos negros” diz Mildred Sotero, professora do Gracinha e participante do movimento “Gracinha Antirracismo”.
O colégio Equipe, um dos pioneiros do movimento antirracista, fundou o movimento “Comissão Antirracista Equipe”. Formado por pais e mães de alunos, o movimento busca um espaço para a educação antirracista. “Entendemos que o papel de uma escola antirracista é promover uma reparação histórica aos negros e negras do país, promovendo ações que empoderem crianças e jovens negros para se defenderem contra o racismo estrutural; conscientizem as crianças e jovens brancos de que são detentores de privilégios e que esses privilégios são distorções que permitem a perpetuação do racismo. Portanto, o fim dos privilégios da branquitude é fator de mudança social, essencial para o fim do racismo, para promover uma educação que retire a visão eurocêntrica do centro e amplie e inclua outros conhecimentos no currículo – epistemologia africana, indígena, asiática”, diz o grupo.
Tássio José da Silva, coordenador pedagógico do F1 da Escola Tarsila do Amaral, diz que há um compromisso diário com a construção da educação antirracista na escola, não apenas em datas específicas, como o Dia da Consciêncoa Negra. “Fazemos um exercício de não tratar essa data apenas em novembro, no mês do Dia da Consciência Negra, mas fazer com que esse debate transversalize o currículo de todas as áreas do conhecimento no ensino fundamental, de modo a ampliar as referências das crianças sobre a história e cultura africana e afro-brasileira”, afirma.
O Centro Educaciona Pioneiro, por exemplo, tem um forte conteúdo pedagógico sobre a chamada Cultura Digital. Desenvolveu o projeto “Todos por uma Internet mais positiva: conexões e interações pulsantes na escola”. Durante os encontros, os alunos no Ensino Fundamental I criaram campanhas de conscientização acerca de temas como proteção de dados pessoais, cyberbullying, presença e rastro digital, compartilhamento de fotos e vídeos.
O Instituto Singularidades, instituição de ensino especializada em formar professoras, adotou um Compromisso Antirracista, com três pilares: o Fundo de Bolsas para Equidade Racial; o Programa de Formação Antirracista e a Política de Desenvolvimento Institucional Antirracista. Para a diretora executiva do Instituto Península (mantenedora do Singularidades), Heloisa Morel, a educação antirracista vai transformar a sociedade. “Se queremos um país mais justo e igualitário, a questão antirracista também deve estar inserida com intencionalidade nesse contexto. O compromisso e política para a equidade racial propostos pelo Singularidades não apenas nos posiciona neste tema fundamental, como caminha em direção às mudanças que o Brasil tanto precisa”, destaca.
No próximo dia 17 de novembro, às 19h30, o Sigularidades fará uma roda de conversa gratuita e presencial sobre “Diversidade no currículo de português – para além de referências brancas e masculinas”. Inscrições em https://bit.ly/diversidades-curriculo-sing