Escola nova: 11 questões para levar em conta na hora de definir onde matricular o seu filho
Optar por uma instituição onde o filho vai estudar é uma das fases mais desafiadoras desafiadoras para mães e pais, e a pandemia da covid-19 colocou a vida escolar à prova. Aqui, listamos uma série de pontos importantes para ajudar você nessa busca
Escolher a escola para os filhos é uma sucessão de delicados detalhes. Depois da pandemia, mais ainda, porque esse período trouxe questionamentos e aprendizados que também pesam na decisão.
Essa busca revela muito sobre como a família pensa a educação, a visão de infância, o que sonha para o futuro. De primeira, vêm as memórias escolares dos pais – “será que quero igual ou o oposto?”. Então, nas pesquisas iniciais, descobre-se que há mais opções de ensino hoje do que se pensa. Natural que você tenha um misto de sentimentos, de dúvidas à forte expectativa por “acertar”, afinal, é um novo mundo que se abre para a criança, num espaço além da casa e com pessoas desconhecidas. Por outro lado, essa é a melhor parte: a oportunidade de o seu filho crescer em contato com desafios e adquirir conhecimentos que serão fundamentais por toda a vida dele.
Mas acalme seu coração: não tem certo ou errado na escolha da primeira escola das crianças. Mas… que tal uma listinha para ajudar você a refletir sobre o que levar em conta?
1. Passeio pelo bairro
Já mapeou o que tem pelas redondezas de onde mora? Se não, vale dar uma volta por aí. Veja o que consegue observar pelo lado de fora, e anote tudo: até mesmo o nome da escola pode dizer que tipo de educação está pensada ali dentro. Além da localização, a distância de casa (horas no trânsito contam!), do trabalho de quem vai entrar na rotina de levar e buscar, o entorno também deve ser analisado, tudo conectando a como será feito isso: a pé, de carro, van escolar…
2. Número de horas e credibilidade
Meio período, semi-integral, integral ou se a família precisa de flexibilidade de horário: há várias maneiras de contratar o tempo da criança na escola. A fase de desenvolvimento em que o pequeno estiver quando for matriculado pode influenciar na decisão. “Mas, além de dimensionar a autonomia dessa criança, o principal é avaliar do que a família precisa”, diz a pedagoga Cristina Nogueira Barelli, coordenadora do curso de Pedagogia do Instituto Singularidades (SP).
Mas que escola é essa? “Para começar, ela precisa ser credenciada na Secretaria de Educação, que leva em conta aspectos como a formação de professores, o espaço físico, se tem extintor de incêndio e todas as demais questões de segurança. São parâmetros que legislam a educação infantil e os pais poderão recorrer ao órgão, se necessário”, diz a coordenadora adjunta de formação continuada de professores e equipes Cisele Ortiz, do Instituto Avisa Lá (SP).
3. Investimento e administração de imprevistos
Os altos custos das mensalidades nem sempre correspondem à melhor escolha (ou à melhor escola). Nada justifica o constrangimento – e o desgaste emocional – de um débito impossível de ser sanado e, em última instância, a troca repentina de lugar. Vale saber como a escola lida com imprevistos, se há negociações por descontos (especialmente no caso de irmãos) ou bolsas, em caso de perda de emprego dos pais, por exemplo – situação, aliás, que aconteceu bastante na pandemia. Quando chegar a hora de entrar em contato com o departamento financeiro, se você sentir que é “apenas uma matrícula a mais”, preste atenção. Não espere menos do que um tratamento humanizado.
4. Projeto pedagógico
A escola pode dar muitas (e boas) pistas sobre quais são os parâmetros de aprendizado em que a instituição está ancorada. Há diversos tipos de educação ou métodos de ensino muito além do “tradicional” ou “construtivista”. “Temos escolas para todos os desejos, mais simples e modestas, em que a criança brinca muito; outras que vão prometer que seu filho vai estudar em Harvard, quando crescer. O mais importante é que você, como pai ou mãe, tenha clareza do seu projeto de educação”, diz Cisele Ortiz.
O coordenador pedagógico pode dar exemplos de como se fazem os processos de aprendizagem, que tipo de atividades propõem, que linhas pedagógicas seguem, se enfatizam mais artes ou esportes, entre outros detalhes. “Pergunte como vai ser a rotina e, já no primeiro momento, observe como os adultos do lugar se relacionam com as crianças: se sentam no chão, se olham para elas da mesma altura, que tipo de linguagem usam, se as escutam de verdade”, recomenda Cristina, do Instituto Singularidades.
5. Espaço físico
Portas, janelas, cores, jardins, acessibilidade mínima, espaços abertos e bem arejados, como são as salas de aula, como estão dispostos os brinquedos, estantes de livros e o tipo de imóvel fazem parte do projeto pedagógico, pois o espaço também educa. Muitas ou poucas salas, bem extenso ou menor, quintais ou quadras, quantidade e arquitetura dos banheiros, acessibilidades gerais ou específicas, tudo conta! “É preciso um lugar que acolha os movimentos livres dos pequenos, ou seja, um local planejado para que eles possam descobrir e desenvolver habilidades por si mesmos. Um espaço físico nunca é neutro: sempre dá notícias e nos aponta para aquela questão do discurso e da prática”, diz Fabiane Vittielo, da consultoria pedagógica Diálogos.
6. Brinquedos e livros
Os materiais também mostram como a escola conduz o projeto pedagógico ou como pensa o desenvolvimento infantil. Explorar vários tipos, aliás, diz bastante sobre o lugar e é essencial. Os pais só avistam brinquedos de plástico ou há os mais artesanais e outros utensílios do dia a dia? No acervo de livros infantis, é possível perceber uma bibliodiversidade tal qual a nossa sociedade é representada ou encontram-se só personagens famosos?
Papel da escola é fundamental no desenvolvimento dos pequenos, mas não pode ser a única neste processo — Foto: Getty Images
7. Alimentação
O cardápio do que é oferecido na escola, indicação ou restrições para lanches que vêm de casa e outros tipos de refeições que podem acontecer no recinto – festas gerais, aniversários, ações diversas – precisam ser discutidas nas primeiras conversas. É sempre possível que o tipo de alimentação da família e da instituição entrem em acordo – e essa parceria é uma importante aliança para as imprevistas mudanças no paladar das crianças. Aproveite esse momento, ainda, para falar de restrições e estabelecer combinados.
8. Higiene e saúde
A pandemia da covid-19 mudou muito o olhar para a escola em relação à higiene e aos cuidados com a saúde. De uma hora para a outra, nos enxergamos todos “doentes” e com a chance de contaminar o próximo. Aprendemos, no entanto, o quanto um álcool em gel daqui e outra lavada de mão ali podem salvar vidas. Só que viver com bebês e crianças pequenas é lidar com o imprevisível e um grande encontro de vírus e bactérias com o sistema imunológico na primeira infância. Um ambiente extremamente asséptico pode ser crucial para uma família, mas motivo de dúvidas para outra – especialmente para quem é adepto da vitamina “s”. Procure entender como a escola lida com esse equilíbrio e, ainda, de que forma trabalha com crianças que tenham alguma necessidade específica, como diabéticos, asmáticos, alérgicos, entre outros.
9. Questão de segurança
Os olhos dos pais parecem escanear sinais de perigo em toda parte. A pandemia pode ter deixado adultos e crianças mais inseguros, porque, afinal, durante muito tempo, filhos e pais ficaram mais interdependentes. Daí a importância de a escola mostrar o limite entre o seguro e o excesso de zelo. É também a hora de perguntar qual é o procedimento em situações de acidente com a criança, quais orientações prévias precisam estar acordadas entre família e instituição de ensino – no caso de uma emergência, qual é o hospital mais perto? A quem avisar primeiro? Quais medicamentos podem ser dados e por quem.
10. Professores e equipe
Como é a formação das professoras e professores e de que maneira dão continuidade aos estudos é assunto de interesse da família, sim. As equipes se reúnem constantemente para falar de suas experiências? Como é feita a devolutiva com os pais? Relatórios? Reuniões coletivas ou individuais? Além de observar os educadores, perceba como é o tratamento de profissionais da manutenção ou limpeza por parte de todos da comunidade escolar.
11. Acolhimento ou “adaptação”
Os primeiros dias da criança na escola são tão cruciais que, nos últimos tempos, há educadores e instituições que vêm tentando substituir o termo “adaptação” por “acolhimento”. Isso porque não há um jeito único de “ser”, e o “adaptar-se” pode dar margem a alguma imposição desnecessária. Descubra, então, se os pais poderão ficar com as crianças ou, ao menos, se poderão vê-las de longe no início e por quanto tempo. O diálogo aqui faz a diferença – para você, para o seu filho e para essa relação que começa a ser construída agora. Segundo Fabiane, da Diálogos, vale questionar: “A instituição reconhece a escuta como um valor? Os pais têm acesso ao professor ou professora ou a participação se restringe a reuniões e datas comemorativas?”. Ao acompanhar de perto o processo, as dúvidas vão se desfazendo aos poucos.
Por fim, lembre-se de que a confiança é algo construído em um cotidiano de diálogo aberto, e esse foi outro ponto que a pandemia ensinou a todos, quando tivemos de estabelecer essa relação à distância. E, acredite, isso é pedagógico para a criança, para a família e até para a escola.