O Suplente (Netflix) comprova a genialidade dos filmes argentinos
Não é novidade vermos nas telas o esforço dos professores mais motivados, geralmente novatos, em abordar seus alunos em centros educacionais em áreas deprimidas, com a violência e a criminalidade gravitando em suas salas de aula. E é sobre essa premissa que a Netflix incluiu O Suplente em seu catálogo, um drama argentino dirigido por Diego Lerman (O Olhar Invisível e Refugiado).
O longa é centrado em Lucio (Juan Minujín), um professor de letras na prestigiada Universidade de Buenos Aires. A vida acadêmica, porém, não o motiva mais: ele quer levar seus conhecimentos onde possa fazer a diferença, para ensinar literatura em um bairro da periferia de uma área marginal dos subúrbios de Buenos Aires.
úcio deve usar toda a sua engenhosidade para levar as aulas adiante e, ao mesmo tempo, ultrapassar todos os tipos de limites morais e preconceitos sociais para tentar salvar Dylan, seu aluno favorito, que é perseguido por uma quadrilha de traficantes em busca de vingança.
Vale a pena?
Primeiramente, sim! O Suplente é uma daquelas produções que entram naquela tradição de filmes sobre escolas e professores. Porém, a imagem, a música, o movimento da câmera, o ritmo e vários outros aspectos fazem desta história uma proposta recomendável.
O Suplente segue três linhas narrativas que se articulam entre si para trabalhar a história sob todos os ângulos e diferentes perspectivas. De um lado, a situação de tensão entre Lúcio, os alunos e a realidade social; enquanto, por outro, aborda a relação que mantém com a própria filha, estabelecendo um contraponto entre duas realidades opostas. Por fim, trabalha o vínculo com o pai, “El chileno” (outra atuação memorável de Alfredo Castro), articulado como ponto de comparação entre a teoria e a rua. O dogmático e o pragmático. O pessoal e o social.
Lerman recorre a uma encenação frenética, que em muitos momentos se assemelha à de Refugiado, trabalhando novamente com Wojciech Staron e uma câmera em movimento contínuo sobre os personagens, captando cada detalhe corporal e emocional, sem descuidar do aspecto social, do ambiente envolvente sem maniqueísmo ou tiros baratos.
O Suplente é um filme honesto, do qual saem várias camadas na tentativa de desafiar o espectador diante da realidade, mas com a virtude de ser incapaz de julgar seus personagens.
Lerman, sem dúvidas, conseguiu fazer um trabalho eficaz em conteúdo e ousado em sua forma. Por fim, bem vindos e aproveitem a genialidade dos filmes argentinos.
Confira o trailer de O Suplente (Netflix)