O novo ensino médio e as escolas particulares: deu certo ou deu errado?
O novo ensino médio está no centro do debate educacional. Enquanto milhares de estudantes e professores saem às ruas pedindo a sua revogação, o Ministério da Educação optou por criar uma comissão especial para avaliar a situação. Criado em 2017 por medida provisória, o novo ensino médio entrou em vigor em 2022 para os alunos do primeiro ano. Em 2024, todos os estudantes já estarão integrados ao novo modelo.
Uma das principais críticas ao novo ensino médio é que ele poderá aumentar as desigualdades entre as escolas públicas e as particulares. Do lado positivo, a possibilidade dos alunos escolherem o que aprender dentro dos chamados itinerários formativos. Na realidade, muitas propostas do novo ensino médio já estavam incorporadas nas escolas particulares antes mesmo da promulgação da nova lei. É o caso da disciplina de orientação educacional, na qual os estudantes aprendem a pensar o seu projeto de vida.
O coordenador pedagógico do ensino médio da escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, Wagner Borja, explica que as estudantes discutem duas vezes por semana questões de relacionamentos e apontam para reflexões sobre seus caminhos e projetos de vida. “Conseguimos resolver muito bem esta questão porque temos um professor que é sociólogo, que está terminando formação em psicanálise”, diz.
Wagner lembra que o Gracinha, começou a discutir mudanças no ensino médio em 2015. “Formou-se um grupo de professores e orientadores para discutir sobre um novo ensino médio e naquele grupo surgiu a necessidade de que fossem produzidas disciplinas eletivas para que os alunos fizessem escolhas”, destaca.
Na Carandá Educação, o ensino médio também já contemplava inovações antes da reforma desta etapa. É caso das monografias, disciplina na qual os alunos escolhem um tema e desenvolvem uma ampla pesquisa. “É a chance do aluno escolher um tema de interesse para ele, que ele quer investigar, se aprofundar durante um ano inteiro e, ao mesmo tempo, viver a experiência de fazer um trabalho monográfico e dissertativo”, afirma o coordenador pedagógico do ensino médio, André Meller.
O aluno Luiz Henrique, de 16 anos, fala que sua monografia foi um ótimo aprendizado. “Foi um processo natural e em nenhum momento eu fiquei perdido. Meu orientador me passou tudo como se fosse um tutorial mesmo, como escrever cada parte, quais informações eram necessárias, como fazer a introdução, a conclusão e isto me ajudou bastante”, fala.
Outro aspecto que já estava presente nas escolas particulares quando o novo ensino médio entrou em vigor são as chamadas disciplinas eletivas, ou seja, os conteúdos eleitos pelos próprios alunos para estudar.
No Gracinha, desde 2018 a primeira e a segunda série tem uma disciplina chamada Ciências Humanas Integradas e Ciências da Natureza Integradas. “Eram três aulas por semana, dadas por três professores simultaneamente, para todos os alunos daquelas séries. Nessa aula eles trabalhavam grandes temas que diziam respeito aquele campo do conhecimento”, diz Wagner Borga, do Gracinha. “Eles discutem questões básicas da ciência, problemas concretos, reais, de um jeito em que os estudantes não estavam sentados atrás do livro didático, mas pensando e discutindo”, afirma.
Na Carandá, os itinerários formativos são estruturados em quatro modalidades: disciplinas eletivas, núcleo corpo, arte e tecnologia, monografias e orientação profissional. A cada semestre os estudantes realizam a escolha de um curso em cada um desses núcleos, que farão parte de seu currículo pessoal. André Meller relata que de “uma maneira geral, tanto os alunos como famílias têm achado bastante significativa, essa oportunidade de escolhas do ensino médio, de poder ter um caminho mais específico conforme os interesses pessoais que eles têm”.
Borja, do Gracinha, concorda ser “importante que os estudantes de ensino médio tenham a possibilidade de participar da escolha do seu currículo, é positivo que eles consigam refletir sobres suas trajetórias”.