Costin avalia aumento de jovens que não estudam nem trabalham
Matéria publicada pelo Boletim da Liberdade em 27/07/2023
Seria possível reverter a situação e abrir espaço e oportunidades para que cada vez mais os jovens ingressem no mercado de trabalho e sigam com seus estudos?
Em entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade, a diretora do FGV CEIPE, Claúdia Costin, comentou o relatório “Education at a Glance”, de 2022, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os dados mostram que o Brasil é o segundo país com maior número de jovens que nem estudam e nem trabalham. Isso representa cerca de 36% dos jovens entre 18 e 24 anos, ficando atrás apenas da África do Sul.
De acordo com o estudo, a principal causa de tantos jovens desempregados e fora do meio acadêmico é a renda familiar. Sendo assim associada às mulheres que precisam cuidar dos serviços domésticos, filhos ou familiares e acabam abandonando a escola. Outro fator que contribuiu com esse cenário foi a pandemia de Covid-19, gerando a paralisação da educação e da formação profissional. Além também do uso de dispositivos tecnológicos, que complicou a vida de famílias sem acesso à internet.
Jovens Nem-Nem
Para Claúdia Costin, a situação que apresenta o relatório é bastante triste, uma vez que o jovem além não ter emprego e estudo, também não está buscando. “Ele [o jovem] tem problemas de origem socioeconômica e não acha que vai ter empregabilidade, além de não se sentir apto ou em condições de continuar estudando. É importante lembrar que nós estamos falando de um período pós-pandêmico. Nós tivemos tantos problemas de conectividade e muitos jovens não conseguiram continuar estudando durante aqueles dois anos de escolas fechadas”.
A professora relembra que os alunos tiveram importantes perdas e que em muitas escolas, após pandemia, não houve recuperação de aprendizagens para os estudantes do ensino médio. Dessa forma, acabaram não se sentindo preparados pra prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou ainda não chegaram a concluir o terceiro ano.
“Além disso, muitas jovens envolvidas no que a gente chama de economia do cuidado. Então elas cuidam da casa e liberam a mãe pra trabalhar, por exemplo”, reforçou Costin. A especialista defende que jovens merecem atenção de políticas públicas, ainda, no que diz respeito a educação sexual nas escolas, visando diminuir o número de gravidez na adolescência. [Esse] fator coopera para a evasão escolar, e também a criação de mais creches, uma vez que muitas precisam abandonar seus estudos para cuidarem de seus filhos.
Buscando saídas
Para o enfrentamento do cenário nem-nem, Costin afirma que há uma necessidade de recuperar o que foi perdido. Repor a educação básica com possíveis mecanismos de nivelamento preparado é um ponto muito importante juntamente com o incentivo aos jovens de concluírem o ensino médio e prestarem o ENEM. “Temos que investir nos dois lados, oferecer alternativas de profissionalização no ensino médio e também mostrar pra quem faz o ensino médio que se ele quiser prosseguir com seus estudos isso pode funcionar. Porque nós também temos um índice muito baixo de adultos que concluem o ensino superior. Só 21% dos brasileiros têm diploma de ensino superior”, ressalta a especialista.
Outra medida que ajudará o país a mudar este cenário é o incentivo a que cada vez mais empresas abram vagas para menor aprendiz e bolsas de estudo que permitam o estudo em colaboração com o mercado de trabalho, assim como o empreendedorismo e ensino técnico profissionalizante.
Olhando para o futuro dos jovens, Costin é otimista ao afirmar que o Brasil não pode ‘pensar pequeno’. “As pessoas podem dizer que o Brasil nem está alfabetizando direito para conseguir pensar em coisas mais complexas, mas o Brasil é a décima terceira economia do mundo em termos de PIB. Nós não temos o direito de pensar pequeno, nós vamos ter que pensar numa educação de qualidade nossa juventude”, finaliza.