‘Repertório cultural é mais importante do que inglês’, diz especialista em educação
Cláudia Costin, professora visitante em Harvard, opina que pais devem se preocupar com diversidade e ensino de pensamento crítico em escolas bilíngues
Matéria publicada no OGlobo em 08/10/2023
Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades e professora visitante na Universidade de Harvard, alerta para a necessidade de pais avaliarem as escolas para além da oferta de idiomas.
Por que cresce na classe média o interesse por ensino bilíngue?
Temos sentido aumento no número de famílias de classe média e alta mandando filhos para graduação fora do país. Embora o Brasil tenha universidades federais e estudos de qualidade, não é a mesma qualidade das internacionais. Além disso, o mundo se torna cada vez mais globalizado. Os pais querem que seus filhos morem em outro país brevemente, ou até mesmo que possam trabalhar lá fora.
Não necessariamente. É importante que os pais verifiquem em que medida o aluno está ampliando seu universo cultural. Não é só por ter mais aulas de inglês que uma escola se torna bilíngue. É importante ter boas aulas de História, entender bem a geografia global, ser introduzido à filosofia. Boas aulas de ciência, na minha opinião, são mais importantes do que, eventualmente, elas serem dadas em inglês. É mais importante aprender a ser um pensador autônomo que ter domínio superior numa segunda língua, mas repertório cultural diminuto.
Como avaliar essas escolas na hora de matricular?
É importante saber se essa, de fato, é uma oferta bilíngue, com aulas, por exemplo, de ciências e matemática em inglês. Também é válido procurar saber quem são os professores, ir no horário da saída para tentar encontrar outros pais, avaliar quais são os valores que uma escola pratica.
Depende das expectativas e escolhas das famílias. Mas não é por ser bilíngue que vai ser necessariamente melhor. Ainda que algumas tenham cotas e bolsas, provavelmente o jovem vai ser exposto a menos diversidade. Um dos papéis da escola é preparar o jovem para a entrada na sociedade mais ampla que a família. Se restrinjo a convivência dos meus filhos a uma bolha, não os ajudo a atuar de maneira intercultural.