Carolino Cepeda, mestre pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP
Ano de 1967. Rapaz do interior de São Paulo, estudante de escola pública de Presidente Prudente que, apesar de razoável, não dava plenas condições para enfrentar um vestibular. Um ano de imersão no cursinho Anglo Latino, visando a temida e concorrida prova na USP. Como todo bom caipira e aluno, não me preocupei com a logística, pois o mais importante era estudar até o último minuto. Consequência? Ao chegar na Cidade Universitária, estava 10 minutos atrasado, e com as portas já fechadas perdi o exame. Grande frustração e ainda ter que enfrentar a vergonha de explicar para os pais tamanha negligência.
Fiquei então sabendo que existia a EESC-USP, em uma cidade chamada São Carlos e que lá havia o curso de engenharia, nas modalidades civil e mecânica. Pouco me agradou, pois já tinha decidido ser um engenheiro eletricista. Mesmo assim embarquei na jornada com uma semana de antecedência. Agora não podia repetir o erro. Foram dias curiosos, pois nada de estudo, era tipo uma aventura, sem muita expectativa ou vontade.
Naquele vestibular, a escola disponibilizava 160 vagas e fiquei surpreso ao saber da quantidade de concorrentes, não seria moleza. Lista de resultados afixada e nada do meu nome constar entre os aprovados. Bateu um calafrio só de pensar em mais um ano de cursinho, isolado e enfrentando as agruras dos estudos e da vida na capital. De repente, alguém faz o alarde de uma lista adicional com novas 20 vagas. Estava criado o curso de Engenharia Elétrica, a realização de um sonho do professor Morency Arouca (1930-1989).
Minha animação foi instantânea e cravei o olhar na tal lista. Lá estava meu nome, o primeiro dos últimos, mas que importa, a jornada de pré-universitário tinha acabado, eu era um calouro da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP e já sentia nisso um certo orgulho. Foram cinco anos onde o útil e o agradável andaram de mãos dadas, onde o conhecimento técnico veio acompanhado de boas amizades. Gostei tanto que resolvi continuar e fiquei por mais cinco anos. Saí de São Carlos para Brasília e trouxe na bagagem o título de primeiro Mestre em Engenharia Elétrica da EESC.
Esta década da minha vida é ímpar e frequentemente me traz saudades. De vez em quando, alivio esse sentimento nos encontros de ex-alunos, sempre um evento de grande prazer, mas que aponta para o tempo que passa e que nos retira sempre, à contragosto, algo preciso, como saúde e amigos. Creio ter sido um bom profissional e pessoa cidadã, e sem dúvida, muito disso devo à Escola de Engenharia de São Carlos, não só pela base técnica transferida, mas também pela formação política, uma dádiva de quem foi universitário no período mais conturbado na nossa história recente. Sei que esse verdadeiro tesouro não tem vida eterna.
Na profissão cessa com a aposentadoria. Na vida pessoal à medida que as forças vitais esmorecem. Não importa, faço voz ao Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes que ao final proclama: “Eu possa me dizer do amor (que tive); Que não seja imortal, posto que é chama; Mas que seja infinito enquanto dure”. Assim mantenho, na retina e na alma, a querida EESC.