José Donato Casamássimo, funcionário da Reitoria da USP e egresso da Faculdade de Odontologia (FO) da USP
Prestei concurso e entrei área administrativa da USP em 18 de abril de 2013, havia um curso para ambientação e informe da política organizacional e fui inscrito. O grupo era de recém-chegados e de pouco tempo de admissão.
Num dos primeiros contatos, nos foi dito que a empresa possuía servidores de 20, 30, 40 anos de trabalho, algo inimaginável pra mim que, apesar de já ter 48 anos, só passei dos cinco anos numa empresa uma única vez. Mas, enfim, diziam que esses funcionários além de se orgulharem de estar a tanto tempo finalizavam com algumas frases:
– Minha casa eu devo à USP;
– A vida da minha filha eu devo ao HU;
– Meus dentes eu devo à USP.
O que nos fez rir por bons momentos, ciente dos meus 32 dentes.
Como disse, eu tinha 48 anos, era tecnólogo em gastronomia, algo não valorizado na era pré-Masterchef, já tinha trabalhado em vários seguimentos e, se pude aprender algo na vida
profissional, era aproveitar as oportunidades no trabalho. Trabalho na USP, por que não estudar?
O curso foi sugestão da Symone numa das únicas vezes que voltamos a pé do trabalho ao Metrô:
Por que não Odontologia?
– Mas, tem noturno?
– Tem!
E não é que passei? T-120, início em 2014, com direito a foto com a mãe orgulhosa no dia da matrícula e tudo. Eu, com 49 anos e 5 kg a menos – perdidos caminhando pela USP – queria
algo desafiador, só não esperava que fosse tanto. Se trabalhar e estudar já é difícil, fazê-los na USP é complexo.
Sem entrar em detalhes agora, apesar de adquirir o hábito de subir do bandejão até a Faculdade de Odontologia (FO) da USP a pé (se você passava por esse caminho entre 2014 e 2020 à tarde, provavelmente deve ter visto um cara subindo com umas maletas falando com alguém ao celular). Isso resultava além do exercício, muitas fotos de pôr-do-sol.
Assistindo a uma aula de cirurgia com a Prof.ª Dr.ª Andréia Traina lá por 2016, percebi que, apesar das inúmeras consultas a dentistas, minha mãe, dependente de duas próteses dentárias removíveis, poderia trocá-las por próteses sobre implantes. Iniciando-se então, seu tratamento pela Fundecto – FFO-USP (Fundação Faculdade de Odontologia da USP). Eu até comecei aestagiar no curso, só parei no final do 9º semestre (de 12), por um infarto, apesar de caminhar duas horas por dia e consultar o cardiologista regularmente.
Resumidamente, com 53 anos, dois stents e exatos 12 meses depois, pude retornar ao curso e, em três semestres, graduar-me cirurgião-dentista pela FO em meio à pandemia, tudo e tals e como minha mãe continuava em tratamento, em 2022 matriculei-me no curso de especialização em Implantodontia T-615. Tendo a graça de poder finalizar as próteses fixas sobre implante da minha genitora.
Quase no final do curso, tivemos uma aula de emergências médicas com o Prof. Dr. Oswaldo Crivello Júnior, aula esta que já tinha assistido na minha graduação. Ao final da aula, quando ele perguntou e sanou todas as dúvidas, eu levantei a mão e contei a todos:
– Professor, em 8 de junho de 2018, eu fui ao cardiologista achando que estava infartando, ele, após o exame, disse que era gastrite e aumentou a dose do remédio. No dia seguinte, além dos
sintomas anteriores, eu estava com dor no palato mole e, graças a essa aula, eu sabia que se não fosse um problema dentário, era seguramente um sintoma de infarto. Graças a essa aula eu fui para o pronto-socorro e graças a sua aula minha mãe pode abraçar o filho dela.
E finalmente pude agradecê-lo por algo tão importante pra mim. E como não bastasse encontrá-lo, por uma dessas coincidências, eu havia marcado de almoçar com minha mãe e, no
estacionamento da fundação, os dois puderam se conhecer.
Não, eu não devo os meus dentes à USP, eu devo a vida somados aos dentes da minha mãe. Só o conhecimento tornou possível estas duas coisas e o conhecimento precisa ser compartilhado.