Filipe Rocha de Abreu, egresso da USP
Até o início de 2010, eu não sabia que meu número USP seria o ingresso para eu ter uma experiência de renascimento.
7171644. Esse número de identificação, junto de alguns outros requisitos, fez com que eu passasse alguns anos longe de família, vivendo uma vida diferente.
Isso se intensificou quando passei um ano, no meio da graduação, em um lugar falando um idioma diferente, com uma moeda diferente, com pessoas diferentes, cultura diferente, paisagem diferente, temperatura diferente. E poderia estender esse parágrafo por um bom tempo.
Ao mesmo tempo que eu via tudo à minha volta diferente, comecei a reconhecer um Filipe diferente. A altura de voz com a qual eu falava era diferente, o jeito de me vestir era diferente, o Filipe com quem as pessoas estavam acostumadas no Brasil era uma página em branco na França.
A oportunidade de me ver distanciado do que eu via de mim mesmo e do que esperavam de mim fez com que eu entendesse que há mais possibilidades de mim do que eu tinha, até então, desse Filipe. Vi que entre mim e mim há mais do que uma só imagem com a qual estava fusionado.
Às vezes, me transporto em pensamento para Grenoble e para aquela vida estudantil que tive. Busco, nessa viagem mental, um distanciamento necessário que me lembre que posso abrir, mais uma vez, espaço para o novo; para que possa integrar uma nova parte que parecia impossível de acolher.