Educação Midiática: Uma ferramenta contra a desinformação nas eleições

Educação Midiática: Uma ferramenta contra a desinformação nas eleições

Com as eleições municipais de 2024 se aproximando, o Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional ressaltou a importância da educação midiática como uma arma poderosa contra a desinformação. Em tempos em que as notícias falsas são criadas e disseminadas com facilidade através das redes sociais e ferramentas de inteligência artificial (IA), a capacidade de discernir a veracidade das informações se tornou uma habilidade essencial para as novas gerações.

Atualmente, não basta apenas ler uma notícia; é preciso analisar a fonte, compreender a intenção por trás das informações e saber como as plataformas digitais moldam o conteúdo que consumimos. Como destacou Renato Russo, pesquisador do TLTLab, “modelos de linguagem baseados em inteligência artificial são capazes de mesclar informações verdadeiras e falsas, criando um desafio ainda maior para o leitor desavisado”.

Escolas privadas de São Paulo estão à frente desse movimento, reconhecendo que a alfabetização midiática é fundamental desde a infância.

O Centro Educacional Pioneiro oferece há 13 anos o Programa de Cidadania Digital, que se concentra em desenvolver habilidades de leitura crítica entre seus alunos. O programa ensina os estudantes a identificarem fontes confiáveis e os envolve em discussões sobre segurança digital, proteção de dados e privacidade. Fernanda Bocchi, coordenadora de tecnologia educacional da instituição, diz que “os alunos já demonstram uma consciência notável sobre internet segura e são proativos em suas análises sobre como interagir, analisar e criar conteúdo digital de maneira segura.”

Da mesma forma, o Colégio Magno/Mágico de OZ adota uma abordagem prática com o projeto “Alunos Tutores de Tecnologia”, em que os estudantes aprendem sobre a mídia digital e assumem o papel de tutores, compartilhando conhecimento sobre segurança online e uso ético da tecnologia com os colegas e a comunidade.

Conversar com as famílias sobre educação midiática é uma das estratégias da Carandá Educação, explica Denise Pinhas, coordenadora da Educação Infantil. “Realizamos conversas entre famílias sobre o tema e contamos com a participação de pais que compartilham suas experiências profissionais relacionadas à segurança e ética digital”, afirma. Na parte pedagógica, segundo ela, as crianças interagem com as tecnologias de maneira lúdica e integrada. “As tecnologias são inseridas na escola como um meio adicional pelo qual as crianças podem experimentar e ampliar suas investigações”, sustenta Pinhas.

No Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, a introdução da inteligência artificial nas discussões em sala de aula é uma realidade. O professor de IA, Lucas Chao, desenvolveu junto aos colegas docentes um Guia de Orientação para a incorporação da IA na formação dos alunos, com o objetivo de criar uma cultura de uso responsável e crítico da tecnologia.

Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) implementou o programa EducaMídia, que foca na leitura crítica e na participação cidadã. A escola introduziu o conceito de “letramento algorítmico,” um componente fundamental para entender como as tecnologias impactam o acesso à informação. Cláudia Rossi, consultora de tecnologia educacional do Gracinha, explica que o objetivo é preparar os alunos não apenas para consumir informação, mas para questioná-la e utilizá-la de forma responsável e ativa.

Ana Paula Gaspar, professora de tecnologia na Escola Vera Cruz e assessora de Tecnologia e Educação do Instituto Vera Cruz, ressalta que, embora as crianças sejam nativas digitais, ainda precisam ser alfabetizadas digitalmente. “Elas estão imersas nessa cultura, mas não prontas para lidar com ela sem orientação”, afirma. Desde 2019, a escola desenvolve um intenso trabalho de formação de um leitor crítico de notícias, realizando pesquisas com os alunos sobre como eles entendem o papel das mídias na sociedade. 

E, como observa Paulo Blikstein, diretor do Transformative Learning Technologies Lab (TLTLab) e professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, “isolar a criança dos dispositivos digitais não faz sentido hoje em dia.” Paulo enfatiza a necessidade de encontrar um equilíbrio, ensinando as crianças a se autorregularem e a usarem a tecnologia de forma ética e responsável.