O papel da educação infantil nas eleições: Como as escolas privadas podem inspirar o setor público 

O papel da educação infantil nas eleições: Como as escolas privadas podem inspirar o setor público 

A educação infantil é amplamente reconhecida como a fase mais importante no desenvolvimento de uma criança. Pesquisas mostram que os primeiros anos de vida são determinantes para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional. No Brasil, esse cenário ainda é marcado por desigualdades gritantes: enquanto algumas crianças têm acesso a escolas que oferecem experiências de aprendizado ricas e integradas, muitas outras, especialmente nas áreas periféricas e mais vulneráveis, enfrentam a falta qualidade no ensino e a infraestrutura inadequada. Com as eleições municipais se aproximando, o futuro dessas crianças está em jogo. As decisões que os próximos gestores tomarão definirão o tipo de educação que queremos para as próximas gerações. 

Em algumas escolas privadas, onde a qualidade da educação infantil é mais consolidada, práticas pedagógicas inovadoras e inclusivas já fazem parte do dia a dia. E é esse tipo de educação — que valoriza o desenvolvimento integral e o estímulo à cidadania ativa — que todas as crianças brasileiras deveriam ter o direito de receber. 

No Centro Educacional Pioneiro, na zona sul, as crianças são convidadas a refletir sobre o mundo à sua volta, desde cedo. Projetos sobre consumo consciente, desigualdade social e participação cidadã integram o currículo, sempre apresentados de uma forma acessível e adaptada à realidade das crianças. Débora Martins, coordenadora de educação infantil da escola, explica que um dos principais objetivos da instituição é fomentar a consciência social ativa. “Buscamos criar momentos em que as crianças possam ampliar sua percepção sobre o que é justo e sobre seu papel na sociedade. Fazemos isso por meio de projetos que vão desde a alimentação saudável até discussões sobre desigualdade e racismo”, conta. 

Esse tipo de abordagem não se restringe ao desenvolvimento cognitivo. O foco também está em construir uma consciência crítica e participativa nas crianças. Elas são incentivadas a tomar decisões em grupo, a dialogar e a resolver conflitos de maneira democrática. Martins ressalta a importância de atividades como votações e rodas de conversa, que ajudam as crianças a praticarem o diálogo e a respeitar as opiniões dos colegas, criando uma base sólida de cidadania desde cedo. 

No Colégio Nossa Senhora das Graças (Gracinha) a pedagogia aplicada também tem um caráter relacional. Para a orientadora educacional Mariana Melhado, a interação social é essencial para o desenvolvimento das crianças. As rodas de conversa permitem que os pequenos expressem seus sentimentos, ouçam os outros e discutam questões importantes, como convivência, respeito e amizade. A escola também valoriza o protagonismo infantil, incentivando que os projetos nasçam dos interesses das crianças, o que resulta em um engajamento natural. “As crianças têm liberdade para explorar, perguntar, pesquisar e criar, sempre com a orientação dos professores e a colaboração dos colegas. Isso torna o aprendizado mais dinâmico e significativo”, explica Melhado. 

Enquanto essas práticas enriquecem o cotidiano das crianças nas escolas privadas, o mesmo não pode ser dito de grande parte das instituições públicas. Muitas crianças até os cinco anos ainda estão à margem de um sistema que deveria ser inclusivo e para todos. A criação de novas creches e escolas não pode ser o único foco das políticas públicas. Para garantir que todas as crianças tenham uma educação de qualidade, é fundamental que os próximos gestores municipais se comprometam não só com o aumento das vagas, mas com a melhoria da qualidade da infraestrutura e da formação dos professores. 

Embora alguns avanços tenham sido conquistados, como o “Agosto Dourado”, que coloca a primeira infância em destaque, ainda há grandes lacunas a serem preenchidas. Débora Martins, do Pioneiro, ressalta que, embora o acesso seja importante, a qualidade da educação infantil também precisa ser uma prioridade. “Não basta abrir vagas, precisamos garantir que as escolas estejam preparadas para oferecer um ensino que respeite as necessidades e especificidades da infância”, reforça. 

Outro aspecto que merece atenção é a integração entre saúde e educação. Muitas crianças precisam de suporte especializado e, devido à demora nos atendimentos, acabam tendo seu desenvolvimento comprometido. Para Mariana Melhado, do Gracinha, é urgente que as políticas públicas garantam um atendimento integral, que inclua o acompanhamento de saúde das crianças em idade escolar. “A saúde e a educação precisam andar juntas para garantir o desenvolvimento pleno das crianças”, destaca. 

Para as educadoras do Pioneiro e do Gracinha, é dever do poder público e dos próximos gestores, garantir às crianças o direito de vivenciar uma educação infantil sólida e que as prepare para os anos de escolaridade e os desafios do século XXI.