Priscila M. Vieira Rodrigues da Silva, egressa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP
Sou formada pela segunda turma de Obstetrícia da EACH-USP, desde dezembro de 2009. Muitas águas já passaram desde a minha foto da semana do trote de 2006 (sou a segunda na fila, com sorriso estampado no rosto pela minha recente conquista). O curso era novo e haviam muitas dúvidas sobre nosso futuro profissional e nossa colocação no mercado de trabalho, embora a nossa força e vontade de realmente fazer a diferença fossem cativantes.
No final, as primeiras turmas sofreram uma imensa dificuldade de entrar no mercado de trabalho e, pasmem, até perseguição política por parte do Coren. Foram momentos tristes, estressantes e desafiadores para todos: processos, lutas, manifestações. Alguns conseguiram vencer os percalços, entrar e permanecer na carreira e, hoje, ainda atuam em hospitais e casas de parto de todo o País (e até no estrangeiro); outros, assim como eu, acabaram se redescobrindo em outras áreas, reajustaram suas próprias rotas. Hoje, sou formada em Pedagogia por outra universidade pública e atuo como professora na rede de São Bernardo do Campo.
Mesmo assim, a Obstetrícia fez e faz parte de quem eu sou. Não só levo comigo diversos conhecimentos da área de saúde que, acreditem, utilizo mais do que gostaria; como carrego na mão esquerda uma aliança de casamento de um relacionamento formado em meio ao trote em questão.
Meu esposo, Fabrício Rodrigues da Silva, é formado pela primeira turma de Obstetrícia, desde dezembro de 2008, e ainda atua como obstetriz ativamente desde então. Em março de 2006, conhecemos um ao outro em meio às bagunças naturais do trote (ele está nesta foto, no fim da fila) e acabamos nos tornando o primeiro casal de obstetrizes “existente” (afinal, éramos da primeira e da segunda turmas, as únicas que existiam – risos). Casamos em outubro de 2009 e seguimos juntos desde então, quase dezoito anos de relacionamento e dois filhos depois.
O que eu aprendi com tudo isso? Que alguns sonhos não saem exatamente como queremos porque alguns caminhos a gente escolhe, outros escolhem a gente – e está tudo bem também! Está tudo bem em se reconhecer diferente do que se imaginou primeiramente: traçar novos rumos, outras rotas, recomeçar.
A Obstetrícia pode não ter me dado uma carreira, propriamente dita, mas me ensinou sobre respeitar os processos naturais da vida como um todo, sobre a força do corpo feminino, sobre ter capacidade de lutar pelo que se acredita e, também, garra para recomeçar quando se sabe que o caminho mudou. Ela me deu uma família, amigos de longa data, professores que ainda admiro, abriu portas incríveis e deixou momentos memoráveis que eu jamais conseguirei esquecer e vou sorrir com carinho absolutamente todas as vezes que olhar para as fotos.
Se eu pudesse voltar, faria tudo de novo!