Estudante cria poste a energia solar
Moradora do Grajaú se prepara para realizar um sonho e estudar nos Estados Unidos
Matéria publicada no Estadão em 22/10/2024
Embora conste na Constituição, o direito básico de ir e vir não é garantia para todos. São muitas as pedras no meio do caminho que atrapalham o deslocamento da população, como a insegurança e a iluminação.
As mulheres são as mais afetadas por essas más condições e sempre precisam recalcular a rota quando estão sozinhas e à noite passando por ruas escuras.
É um problema que sempre incomodou Mirela Viviane Cruz, de 17 anos, estudante e moradora do Grajaú, na zona sul da cidade de São Paulo. Mais populosa da capital paulista, com 384 mil habitantes, a região já foi considerada em 2013 o pior distrito da cidade para viver, segundo o Mapa da Desigualdade feito pela Rede Nossa São Paulo.
Diante do cenário, a estudante resolveu agir. Criou um projeto que une consciência ambiental e cidadania, dois pilares da mentoria que recebeu no Colégio Magno/Mágico de Oz, onde é aluna bolsista do 2º ano do ensino médio.
A estudante planejou um poste, composto por itens recicláveis e abastecido por placa solar. A carga de luz via energia renovável, na análise da estudante, é fundamental em tempos de apagões, como os que vêm causando transtornos em São Paulo.
“Se o poste se mantiver em pé, mesmo em situações de chuva, ele continuará iluminando a rua, porque a fonte é de energia solar”, explica a estudante. Mirela busca tirar o poste do croqui. Para isso, precisa juntar cerca de R$ 700, segundo cálculos feitos por ela.
O local escolhido para a instalação da estrutura será a rua de sua antiga escola, Mariazinha Congílio, que pertence à rede estadual. “Quero que ninguém mais passe sufoco na hora de sair da escola à noite”, enfatiza a estudante.
A solução inovadora de Mirela já rende frutos. Ela foi agraciada com uma bolsa de estudos para cursar faculdade em qualquer universidade ao redor do mundo pelo Rise Scholarship.
O prêmio é patrocinado pela instituição filantrópica Schmidt Futures e pelo programa de bolsas Rhodes. Estudantes de 49 países foram escolhidos na edição deste ano.
A competição, que dura cerca de oito meses, envolve estudantes de 15 a 17 anos do mundo inteiro. São premiados os projetos com escala comprovada e que podem ser utilizados a longo prazo.
Mirela ainda terá de concluir o ensino médio – só a partir de 2026 poderá usufruir da bolsa. Até lá, o desafio é melhorar as notas, aprimorar habilidades, para além do currículo escolar, e seu nível de inglês para realizar um sonho: cursar engenharia química ou ambiental em uma grande universidade nos Estados Unidos.