Vanessa F. de Oliveira, mestre pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP
Nasci e cresci em Osasco, no Jardim Veloso. Não fiz pré-escola e entrei diretamente na primeira série na escola pública da periferia em que morava. Estudei lá por muito anos até que fui para uma escola no centro de Osasco onde fiz o Magistério (um colegial técnico de 4 anos para ser professor), sempre em escola pública. Fui uma boa aluna, eu via nos estudos a única maneira de sair da realidade em que eu vivia e que não me agradava; eu nunca acreditei em milagres e sabia que tinha que lutar por uma vida melhor com as armas que eu tinha, que era uma só: estudar.

Sempre quis fazer Letras, pois adorava ler e já era professora. Mas só queria entrar na USP, nunca me passou pela cabeça estudar em outra faculdade, primeiro porque queria a melhor universidade do País e depois porque não tinha dinheiro para pagar uma particular. Todos riam desse meu sonho e ninguém acreditava que eu conseguiria.
Na primeira tentativa, em 1994, eu me matei para estudar todas as matérias em um cursinho, onde consegui uma bolsa e pagava bem pouco, mas era impossível, pois eu fizera magistério e jamais havia estudado nenhuma das matérias de um ensino médio, então fiquei louca para tentar aprender em 6 meses o conteúdo de 3 anos. Claro que não deu certo. Me disseram para desistir da USP, que era impossível.
Não desisti e mudei a estratégia. No ano seguinte, resolvi estudar sozinha, uma prima pegou emprestado todos os livros de leitura obrigatória na biblioteca do banco em que trabalhava, alguns vizinhos me emprestaram livros do “colegial” e eu montei uma rotina de estudos. Estudava umas 10 horas por dia.
Entrei na USP! Foi a realização de um sonho!
Entrei em 1996, fiz bacharelado em português e japonês, depois licenciatura em português, em seguida, mestrado em Linguística (semiótica), saí de lá em 2006.
Tornei-me professora de francês e jamais tive dúvidas da minha vocação. Sem muito tempo para estudar, não tive muita motivação para fazer o doutorado. Fiz um estágio de didática em Québec, dois na França, uma especialização em didática de francês (AFParis), vários cursos livres, nunca deixei de estudar.
Porém, sempre senti falta da USP e decidi prestar de novo, mais uma vez me disseram que era impossível eu conseguir entrar depois de 20 anos sem estudar as matérias de vestibular. Pois bem, arregacei as mangas: saí de todas as redes sociais, comprei ou baixei todos os livros de leitura obrigatória e me inscrevi em um cursinho on-line, que conseguia assistir em 3 momentos: durante o café da manhã, no almoço e na academia.
E eis que, mais uma vez, provei que “impossível” não existe, basta ter um objetivo, se focar nele e trabalhar para realizá-lo. Muitas pessoas preferem sentar no sofá, perder tempo com besteiras e reclamar da sorte, por não ter isso ou aquilo. São desculpas incapacitantes, não há barreiras quando se decide ir atrás de um sonho.
A USP é o meu mais lindo sonho!