Escolas buscam equilíbrio entre uso de telas e atividades offline
Um levantamento recente feito pela TIC Kids Online Brasil 2024 revelou que 83% das crianças e adolescentes que usam internet no Brasil têm contas em redes sociais. Do outro lado do mundo, na Austrália, uma lei inédita promulgada pelo Senado e apoiada pela maioria dos membros do principal partido de oposição do país, o Partido Liberal, proíbe o uso de redes sociais por menores de 16 anos, com uma multa estipulada em 193 milhões de reais para as Big Techs que descumprirem a norma.
No Brasil, a Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) teve a restrição ao uso de celulares promovida pelo movimento “Gracinha Offline”, criado pela OFAG (Organização das Famílias do Gracinha). “Queremos resgatar atividades que envolvam as crianças e afastem a atenção das telas”, explica Claudia Taddei, mãe e integrante da OFAG.
Sandra Cirillo, orientadora educacional da escola, conta que a dependência dos alunos pelos celulares aumentou significativamente após a pandemia. “Identificamos situações em que alunos apresentavam sofrimento emocional quando seus celulares eram retirados, o que mostrou a gravidade do problema e a necessidade de intervenções estratégicas.”
A escola proibiu o uso dos aparelhos durante as aulas e uniu forças com as famílias para promover diálogos e encontros com especialistas. “Nosso objetivo é que as soluções sejam construídas em conjunto, respeitando a realidade de cada família”, enfatiza Sandra.
No Colégio Magno, a diretora Cláudia Tricate relata os desafios em encontrar um equilíbrio no uso de celulares no ambiente escolar. “Acreditávamos que permitir o uso consciente dos celulares para fins pedagógicos seria o caminho ideal, mas percebemos que os adolescentes ainda enfrentam dificuldades em se autorregular. O apoio das famílias foi fundamental para estabelecer um controle mais eficaz, sem recorrer a medidas drásticas, como o confisco.”
Na Escola Tarsila do Amaral, o foco está nas interações offline, especialmente com as crianças mais novas. Patrícia Bignardi, coordenadora pedagógica, explica que a proposta valoriza experiências lúdicas e conexões sociais sem o uso de dispositivos. “Procuramos estimular brincadeiras e atividades sem tecnologia desde cedo, promovendo uma introdução gradual ao mundo digital. É importante encontrar formas de diálogo e criar espaços onde eles se sintam parte da decisão, sem perder o controle.”
A Escola Vera Cruz adota uma abordagem experimental com dias inteiros sem celulares e smartwatches, tanto para alunos quanto para profissionais. Segundo Daniel Helene, coordenador pedagógico do Fundamental 2, a iniciativa foi pensada junto aos estudantes. “Queremos que os alunos percebam que há vantagens em sedesconectar, como o aprimoramento de habilidades sociais e emocionais que vão além do universo digital.” A participação ativa das famílias tem sido essencial para consolidar essa experiência e promover reflexões sobre o equilíbrio entre tecnologia e convivência familiar.
Enquanto no Brasil a adesão a movimentos como o Desconecta cresce, países como França e China já implementaram políticas mais rígidas. Na França, desde 2018, o uso de celulares em escolas públicas até os 15 anos é proibido, e a China regula até mesmo o tempo diário que jovens podem passar nas redes sociais.