O primeiro passo para conseguir um emprego
Obter uma boa nota no Enem pode abrir muitas portas na vida acadêmica e também no futuro mercado de trabalho
Matéria publicada no Estadão em 29/01/2025
Criado há 27 anos, o Enem consolidou-se como referência confiável para avaliar o nível dos estudantes que concluem o ensino médio. Tanto que os professores relatam que raramente as notas obtidas na prova trazem grandes surpresas – positivas ou negativas – entre os alunos cuja trajetória acadêmica foi acompanhada de perto.
Obter uma boa nota no Enem pode abrir muitas portas, e não apenas diretamente na vida acadêmica, mas também no futuro mercado de trabalho. Para jovens em busca do primeiro emprego, ainda sem experiências para citar no currículo, mencionar um bom desempenho na prova funciona aos olhos dos avaliadores como síntese da trajetória escolar e sinalização das potencialidades do candidato.
Não por acaso, a edição mais recente do Enem atraiu 4,3 milhões de inscrições, aumento de 10% em relação ao ano anterior. Do total de inscritos, 73,5% compareceram efetivamente para realizar as provas, nos dias 3 e 10 de novembro de 2024. O resultado foi divulgado em 13 de janeiro, dando início aos processos que envolvem a utilização da nota no Enem como critério de seleção no ensino superior, a exemplo do Sisu e do ProUni.
As instituições privadas lamentam que permaneça um certo descompasso entre o calendário que precisam seguir, por conta das exigências legais sobre o número de dias letivos, e as etapas dos programas do governo atrelados à nota do Enem. Um exemplo das dificuldades causadas por essas diferenças de cronograma está acontecendo neste momento: se um candidato a financiamento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) esperar até o final do processo para só depois procurar uma universidade ou faculdade particular, perderá a oportunidade de iniciar o curso ainda no primeiro semestre. Quando o resultado for anunciado, em 18 fevereiro, esse candidato já estará reprovado por faltas.
Retorno às origens
Criado com o propósito principal de avaliar a qualidade do ensino médio no Brasil, o Enem não nasceu amplamente adotado como critério de seleção para universidades e faculdades. Ao contrário: apenas duas instituições o utilizaram para esse fim na primeira edição, em 1998. Por isso, a prova tinha um perfil mais “livre” no início. À medida que ganhou importância como processo seletivo, o Enem se tornou progressivamente mais conteudista, característica que influenciou diretamente o processo pedagógico das escolas nas duas últimas décadas.
Considerando-se as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelecem princípios para a reforma do ensino médio – o chamado “Novo Ensino Médio” –, espera-se que o Enem venha a passar por um certo “retorno às origens”. “Tenho saudade daqueles primeiros anos, quando a prova não era tão focada em conhecimentos objetivos, com as competências mais subjetivas desenvolvidas pelos alunos durante o ensino médio sendo também valorizadas”, lembra Wagner Borja, especialista em educação e diretor da Escola Nossa Senhora das Graças, em São Paulo.
Leque de possibilidades
Maria Luisa Will Nuñez, 19 anos, prestou o Enem com o objetivo de concorrer a uma vaga no curso de Direito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sediada em Florianópolis, onde ela mora. Ciente de que a concorrência é grande – trata-se de um dos cursos mais disputados em uma das federais com melhor avaliação do País –, Maria Luisa fez um cursinho específico de preparação. A cada semana, realizava a prova de um Enem anterior, desde 2010, e também uma redação, tudo corrigido e comentado pelos professores do cursinho.
O esforço contribuiu para uma boa nota na prova, 720, além de 900 na redação, mas o resultado não foi suficiente para assegurar o sonhado lugar no curso desejado. Diante disso, Maria Luisa passou a desenvolver duas estratégias simultâneas: ao mesmo tempo que tentará ingressar em outro curso da UFSC, com a possibilidade de conseguir transferência futura para o Direito, está investigando as condições dos cursos nessa mesma área em instituições privadas da região. “Com a nota que eu tirei no Enem, há a perspectiva de conseguir até 70% de desconto nas mensalidades, o que torna essa alternativa possível”, ela descreve.