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Celular nas atividades escolares: escolas equilibram uso pedagógico e bem-estar digital 

Celular nas atividades escolares: escolas equilibram uso pedagógico e bem-estar digital 

Enquanto o Ministério da Educação lança guia com orientações sobre o uso de tecnologias nas escolas, instituições particulares ajustam suas práticas durante viagens pedagógicas para garantir experiências mais imersivas e educativas aos alunos 

Com o aumento da presença de dispositivos móveis entre crianças e adolescentes, a discussão sobre o uso de celulares nas escolas chegou também às atividades pedagógicas que acontecem fora das escolas. Em meio a esse cenário, o Ministério da Educação (MEC) acaba de lançar o Guia de Tecnologia na Educação: Conceitos, Tendências e Referências para a Educação Brasileira, que oferece diretrizes para o uso intencional e ético da tecnologia no ambiente escolar. A publicação reconhece o potencial pedagógico de celulares, tablets e notebooks, mas defende o uso mediado por professores e com finalidades bem definidas. 

A mesma lógica tem guiado as decisões de escolas como o Centro Educacional Pioneiro e a Escola Vera Cruz, ambas em São Paulo, que adotam estratégias distintas, porém complementares, para lidar com os celulares nas atividades fora da escola – experiências fora da sala de aula que integram o currículo com investigações em campo, entrevistas e vivências práticas. 

No Centro Educacional Pioneiro, os alunos levam seus próprios celulares, mas com uso restrito e orientado pelos professores. “Durante a atividade, o celular tem um caráter pedagógico”, afirma Mario Fioranelli, diretor pedagógico do Ensino Fundamental e Médio. Segundo ele, os dispositivos só são usados em momentos específicos para registros fotográficos, gravações de vídeo e produção de conteúdos como podcasts, sempre com objetivos educacionais. 

A proposta é reforçar a função do celular como ferramenta de trabalho, e não como fonte de distração. “Muitos dos lugares que visitamos são remotos, sem sinal de celular ou Wi-Fi, o que já limita o acesso às redes sociais. Nessas situações, o aparelho vira mesmo um instrumento analógico, orientado pelo professor”, explica.  

Já na Escola Vera Cruz, a decisão foi por vetar o uso de celulares pessoais dos alunos durante as atividades fora da escola. Desde o ano passado, os estudantes do 6º ao 9º ano não levam seus próprios aparelhos. Em vez disso, a escola fornece celularesinstitucionais, sem acesso às redes sociais e sem os contatos pessoais dos alunos, que são utilizados exclusivamente em atividades pedagógicas. 

“Esses aparelhos da escola ajudam muito nos processos de investigação que os alunos fazem em campo. Eles fotografam, gravam entrevistas e vídeos, sempre com propósito educativo”, explica Daniel Helene, coordenador pedagógico do Ensino Fundamental 2. Com a nova política, a escola busca promover maior integração entre os estudantes e uma vivência mais imersiva. 

A abordagem adotada por ambas as escolas vai ao encontro das recomendações do guia lançado pelo MEC, que defende a adoção de tecnologias nas escolas com intencionalidade pedagógica, segurança digital e desenvolvimento de competências críticas. O documento desestimula o uso irrestrito ou recreativo dos celulares em momentos de aprendizado, e propõe uma mediação ativa dos educadores. 

O guia também apresenta exemplos internacionais e boas práticas de países como Finlândia, Coreia do Sul e Uruguai, que já estruturaram políticas educacionais para o uso consciente da tecnologia em ambientes escolares. 

Em um momento em que estados e municípios discutem legislações para proibir ou restringir o uso de celulares nas escolas, como já ocorre em países europeus, a experiência dessas escolas mostra que o debate vai além da proibição. Trata-se de formar uma cultura digital responsável, que reconhece o potencial pedagógico da tecnologia sem ignorar os riscos do uso excessivo.