Menos tela, mais presença: como escolas cuidam da saúde mental das crianças diante do uso da tecnologia
Com a proibição do uso de celulares em escolas desde o fim de 2024 e novas diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), instituições reforçam o papel da mediação consciente no contato das crianças com o mundo digital.
Desde o final de 2024, uma lei federal proíbe o uso de celulares em salas de aula em todo o país. A medida, que visa preservar a qualidade do ensino e proteger a saúde mental dos estudantes, ganhou reforço em março deste ano com a publicação de uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), que estabelece diretrizes para o uso pedagógico e mediado de dispositivos digitais nas escolas.
Na Educação Infantil, a orientação é clara: evitar o uso de telas, salvo em situações excepcionais e com acompanhamento de um professor. Mas, diante de um mundo cada vez mais conectado, como equilibrar o cuidado com o bem-estar emocional das crianças e, ao mesmo tempo, prepará-las para viver em uma sociedade digital?
A resposta, para muitas escolas, está na intencionalidade pedagógica.
Na Escola Vera Cruz, em São Paulo, o uso de recursos tecnológicos com crianças pequenas é pensado com cuidado e critério. “Estamos atentos às discussões sobre o uso de tecnologias digitais na infância e apoiamos ações que promovam tanto a proteção quanto o desenvolvimento integral de nossos estudantes”, afirma Juliana Costa, coordenadora da Educação Infantil.
Segundo Juliana, a escola acredita que a formação de cidadãos críticos, responsáveis e preparados para o mundo contemporâneo inclui a capacidade de “navegar, ler, escrever e participar de forma ética e produtiva do ambiente digital”. Por isso, mesmo com o cuidado em evitar o uso excessivo de telas, a Vera Cruz mantém um currículo de educação digital com atividades pontuais e conectadas ao universo da infância.
“Ao integrar recursos digitais a algumas atividades pedagógicas, tanto em sala de aula quanto nas tarefas de casa, buscamos, de maneira intencional, proporcionar às crianças oportunidades de explorar novas formas de aprender, criar e se expressar. Assim, ampliamos suas habilidades e criamos oportunidades para a reflexão sobre a cidadania digital”, explica Juliana.
Entre os objetivos trabalhados com as crianças, estão o reconhecimento das diferentes linguagens digitais presentes na sociedade, o uso de mídias para registro e o desenvolvimento do pensamento computacional, como a capacidade de seguir instruções passo a passo para realizar uma tarefa.
Proteção e parceria com as famílias
Na prática, o contato com a tecnologia na escola acontece de forma pontual, principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. “Sabemos da complexidade posta em relação a como a tecnologia faz parte do mundo contemporâneo e afeta crianças e jovens, por isso, visibilizamos as aprendizagens relacionadas à área com clareza e intencionalidade”, diz a coordenadora.
Além da mediação pedagógica, a escola reforça a importância da parceria com as famílias. Os momentos de uso digital propostos nas lições de casa devem ser acompanhados de perto pelos adultos responsáveis, e o mesmo vale para o cotidiano fora da escola. “É fundamental que as famílias acompanhem esses momentos e estejam atentas aos impactos emocionais do uso excessivo das telas”, orienta Juliana.