Desafio climático na educação

Desafio climático na educação

Impulsionada pela legislação e pelas expectativas dos estudantes, sustentabilidade se consolida no currículo escolar

Matéria publicada pelo Estadão em 05/06/2025

Visão transversal para ligar os pontos entre os problemas do planeta e o dia a dia das pessoas. Em tempos de mudanças climáticas globais, a demanda por soluções, que parte muitas vezes dos próprios alunos, precisa ser incorporada aos currículos escolares, até por questões legais.

No caso do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, colégio com ensino médio integrado ao técnico, a educação climática atravessa diferentes áreas do conhecimento, desde ciências da natureza até linguagens e humanas. Os professores conectam o conteúdo aos desafios contemporâneos, trabalhando temas como ecoansiedade, mudanças climáticas, consumo consciente e a busca por soluções colaborativas.

Um exemplo prático dos resultados dessa abordagem ocorreu no ano passado, quando os alunos do 2º ano do itinerário de Ciências da Natureza e Matemática foram convidados a elaborar um protótipo autoral com tema livre. Dos 11 projetos desenvolvidos, dez estavam diretamente relacionados à sustentabilidade: produtos de materiais biodegradáveis, estudos sobre fontes renováveis e reutilização de resíduos, entre outros.

“Projetos como esses fazem os alunos perceberem sua potência transformadora. Esses jovens poderão se tornar CEOs, legisladores ou pesquisadores que têm mais chance de materializar mudanças”, avalia Nicolle Biancardini Reuter, coordenadora da área de Ciências da Natureza e professora de Química no Liceu.

Com o propósito de reforçar o entendimento que vem se materializando em muitas instituições de ensino, além de orientar na mesma direção aquelas que ainda não estavam devidamente atentas aos temas de sustentabilidade, a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795, de 1999) foi atualizada em julho do ano passado. A ideia central é incluir nos currículos temas de sustentabilidade, tanto no contexto brasileiro quanto global, relacionados às mudanças do clima, à proteção da biodiversidade, aos riscos de desastres e às emergências socioambientais.

Visão crítica em construção

No mundo real, entretanto, as mudanças não esperam a legislação. “Nenhuma escola pode fugir das discussões sobre sustentabilidade, mesmo porque essa é uma demanda que está vindo com muita força das próprias crianças”, diz Claudia Tricate, diretora pedagógica do Colégio Magno, de São Paulo. Atenta às transformações no planeta e na educação, a instituição elevou as abordagens sobre o meio ambiente ao status de eixo central do projeto pedagógico.

O que significa que o assunto aparece o tempo todo em sala de aula. Professores de todas as disciplinas passam por formações específicas relacionadas à sustentabilidade e se tornam aliados na missão de abordar o tema sempre que possível. “Um exemplo: no momento de ensinar geometria, pode-se recorrer ao desenho das colmeias de abelha”, observa a diretora.

A Escola Vera Cruz, na zona oeste da capital paulista, aposta na construção de vínculos afetivos das crianças com a natureza – uma abordagem baseada em encantamento e desejo de cuidar, e não no pânico em relação ao futuro. “A crise climática é global, mas ela é também local. Uma das nossas tarefas mais importantes é formar uma geração que saiba fazer essas conexões, que entenda a interdependência entre seus gestos e o equilíbrio do planeta”, diz André Reinach, assessor da área de ciências da escola.

A partir do fundamental 2, com os alunos já amadurecidos para a temática, o currículo começa a incorporar uma postura mais crítica – os estudantes passam a estudar resíduos, recursos naturais e o impacto das ações humanas sobre o meio ambiente, sempre com foco em alternativas e soluções. Eventos climáticos extremos recentes, como as enchentes catastróficas do Rio Grande do Sul ou as queimadas florestais na Califórnia, mostram que o tempo urge.