Meninas tem cérebro matemático? Ou está na hora de mudar o ensino de matemática?

A matemática foi protagonista de ótimas reportagens este mês de agosto. Duas renomadas professoras de matemática que estiveram no Brasil e dois alunos premiados em olimpíadas provam que esta problemática disciplina não é tão problemática assim. A russa-ucraniana Svetlana Jitomirskaya, a norte-americana Joe Boaler e os jovens Gabriel Bassi, de Goiás, e Jhon Alysson Gomes Destro, de Içara, Santa Catarina, se tornaram matéria da mídia exatamente pelo poder da matemática. Neste contexto, ganha destaque também uma inovação da Olimpíada Internacional Matemática Sem Fronteiras na edição de 2025: as equipes precisam ter, obrigatoriamente, a presença de meninas.

Nascida em Kharkiv, então União Soviética (hoje Ucrânia), Svetlana Jitomirskaya, de 59 anos, formou-se em matemática pela Universidade Estadual de Moscou e atualmente é professora titular na Universidade da Califórnia em Berkeley. Ela esteve no Brasil participando de uma evento no Instituto de Matemática Pura e Aplicada, no Rio, e encontrou o amigo brasileiro Artur Ávalia, premiado com a Medalha Fields em 2014, conhecida como o “Nobel da matemática”. Os dois trabalharam junto para cobrir as lacunas do famoso problema da matemática contemporânea “Problema dos Dez Martinis”, uma demonstração de que estudar em grupo é uma excelente estratégia de melhor a aprendizagem. 

“O sistema das olimpíadas de matemática, que é muito forte no Brasil, é excelente. É popular em muitas escolas, assim você encontra crianças com aptidão para matemática e pode desenvolver o interesse delas. Foi assim, por exemplo, que o Artur foi descoberto. Muita gente, se não for exposta a isso, cresce sem saber que talvez gostasse de matemática”, disse em reportagem na Folha de S. Paulo.

Idealizadora da abordagem Mentalidades Matemáticas, Jo Boaler, de 61 anos, professora de Stanford, nos EUA,  esteve em um evento na bolsa de valores de São Paulo sobre o papel da matemática na economia digital. Segundo ela, o mito de que meninas não gostam de matemática é apenas um mito e não existe um cérebro mais propenso para a área. Para ela, errar é essencial na aprendizagem. 

Após mudar o currículo de matémática nas escolas da Califórina, ela ficou conhecida ao defender uma matemática conectada com a vida real. Na opinião dela, não existe um cérebro matemático. “Esses estereótipos sobre quem pode ser bom em matemática tem muito a ver com ser masculino e ser de certa etnia. Tudo isso se combina neste sistema horrível e muitas pessoas pensam que a matemática não é para elas”, afirmou em entrevista ao Estado de S. Paulo

Em um esforço para tornar a matemática mais atraente para as meninas e reforçar a equidade de gênero, a Assembléia Geral da Olimpíada Internacional Matemática Sem Fronteiras, realizada em Marselha, na França, decidiu que todas as equipes participantes da grande final deveriam ter duas meninas e dois meninos. “Como há uma predominância de meninos nestas olimpíadas, a direção da entidade sentiu a necessidade de reforçar a importância das meninas e da igualdade de gênero”, conta o diretor da Rede POC, Ozimar Pereira, representante brasileiro da Matemática Sem Fronteiras. 

Ele explica que a competição se diferencia das demais olimpíadas por ser realizada em grupos. Hoje os grupos podem se misturar por classes ou por séries. Na primeira fase, é possível mesclar as equipes com alunos de mesma classe ou por série. Já na grande final, cada escola classificada envia uma equipe com duas meninas e dois meninos. Além da maior presença feminina, a Olimpíada Internacional Matemática Sem Fronteiras também inovou ao criar duas novas categorias: medalha de diamante e medalha por escola. Leia mais em Brasil cresce em medalhas e participação na Olimpíada Internacional Matemática Sem Fronteiras.

Jhon Alysson Gomes Destro, de 14 anos, da escola municipal Quintino Rizzieiri, de Içara, no sul catarinense, marcou história na Olimpíada Internacional de Matemática no Japão, organizada pela Rede POCprograma de intercâmbio científico juvenil que tem como objetivo estimular o interesse entre os estudantes pela Ciência, Tecnologia e Inovação. Com um bronze conquistado, o jovem foi o único catarinense a conseguir uma medalha na competição em 2025. “Uma experiência fantástica, que a gente vai levar para a nossa vida. A gente traz na nossa bagagem momentos inesquecíveis, que vão ficar para sempre na nossa memória”, relata Jhon em reportagem da TV NSC, afiliada da Globo. O sucesso foi tão grande que Jhon desfilou em carro aberto pela cidade e recebeu homenagens na Câmara Municipal, mostrando a força da matemática para transformar a vida dos estudantes. Leia em Brasil conquista 72 medalhas na Olimpíada de Matemática na Ásia.

Outro exemplo de sucesso em olimpíadas é Gabriel Bassi, de 17 anos. Em apena, quatro anos, já acumula 20 medalhas. Todas conquistadas em olimpíadas de física, robótica, astronomia, informática e lógica. A primeira vez que disputou uma olimpíada, de física, foi aos 14 anos. Não ganhou medalha, mas se classificou para a etapa final e despertou o interesse pelos estudos. Este ano ele foi o capitão da equipe brasileira na Copa do Mundo de Física, na Hungria, ganhadora da medalha de bronze. “O que aprendi com a competição é que dedicação e preparação abrem caminhos. Com isso, dá para chegar a qualquer lugar”, disse em matéria da Folha de S. Paulo.

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