Anos finais do fundamental desafiam escolas: adolescentes pedem escuta, acolhimento e currículo vivo 

Os anos finais do ensino fundamental, que abrangem do 6º ao 9º ano, representam um período de transição marcado por desafios: a passagem da infância para a adolescência. Uma pesquisa lançada pelo MEC, Consed, Undime e Itaú Social ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes e revelou que, embora a maioria se sinta acolhida, menos de 40% afirmam respeitar e valorizar os professores. Entre os mais velhos, do 8º e 9º anos, o sentimento de pertencimento é ainda menor. O estudo também mostra que os adolescentes valorizam cada vez mais conteúdos ligados a bem-estar, tecnologia, sustentabilidade e educação financeira. 

Enquanto o MEC prepara a primeira política nacional voltada especificamente para os anos finais do fundamental, algumas escolas privadas já mostram que acolhimento, escuta ativa e currículo conectado ao presente são caminhos essenciais para engajar adolescentes em uma etapa que não pode mais ser deixada em segundo plano. 

Na Escola Vera Cruz, essa escuta se traduz em vários projetos. Um exemplo, é o de Ciências Humanas com os alunos do 7º ano, que incluiu entrevistas com familiares, a produção do podcast Sufrágio e encontros com vereadoras de diferentes partidos. “É muito importante que a escola seja um espaço de diálogo com o presente dos jovens. A adolescência precisa ser olhada como experiência atual, e não apenas como preparação para o futuro”, explica Daniel Helene, coordenador pedagógico. 

No Colégio Equipe, a escuta e o protagonismo estudantil também estão no centro das práticas. Projetos que conectam os adolescentes a debates sociais e políticos procuram fortalecer vínculos e criar espaços de pertencimento. “Quando os jovens percebem que a escola leva suas ideias a sério, eles se engajam mais e se veem como parte ativa da comunidade”, observa Luciana Fevorini, diretora escolar. 

Já o Centro Educacional Pioneiro aposta em itinerários formativos e em programas de convivência ética. Além das assembleias de classe e do acompanhamento individualizado, há aulas de Projeto de Vida que colocam em pauta tecnologia, sustentabilidade e escolhas pessoais. “É preciso olhar para os adolescentes em sua singularidade, respeitando diferentes ritmos e trajetórias. Quando a escola faz isso, ela ajuda a formar jovens mais confiantes e críticos”, afirma Mário Fioranelli, diretor pedagógico. 

No Colégio Magno/Mágico de Oz, os projetos interdisciplinares e espaços como o Remida, que incentiva a reutilização criativa de materiais descartados, são utilizados para aproximar alunos e professores em experiências de investigação e colaboração. “Os adolescentes precisam experimentar, testar hipóteses, criar soluções. Quando vivenciam isso, a relação com os professores deixa de ser de confronto e passa a ser de parceria”, destaca Claudia Tricate, diretora do colégio. 

Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo tem investido em cursos de STEAM, projetos de bioquímica com foco em nutrição e no uso pedagógico da inteligência artificial. Além das áreas de exatas, os adolescentes participam de festivais literários e saraus, em que também experimentam o protagonismo cultural. “O que mais motiva os estudantes é perceber que aquilo que aprendem tem conexão com sua vida, com seu futuro e com a sociedade”, resume Nicolle Reuter, coordenadora de Ciências da Natureza.