Os processos emocionais do luto e os efeitos da depressão e do Alzheimer em mulheres
Matéria publicada em 21/11/2024 na Publish News
Publicado pela editora Paraquedas e contemplado pelo ProAC/SP, romance ‘As luzes de dois cérebros anárquicos’, de Ana Barros, põe luz ainda sobre relações conflituosas entre mães e filhas
Em sua estreia na literatura, a paulista Ana Barros apresenta ao público o romance As luzes de dois cérebros anárquicos (Paraquedas), um livro potente e sensível sobre a dinâmica emocional complexa da perda de um familiar e os efeitos perversos da depressão e do Alzheimer nesse contexto. A trama envolve três gerações de mulheres de uma mesma família e inicia a partir da morte repentina de uma delas. As que ficaram precisam lidar com o luto mas também com remorso, medo e culpa que permearam as relações familiares. O livro foi viabilizado via Programa de Ação Cultural (ProAC) 2023, iniciativa do governo do estado de São Paulo.
O evento de lançamento acontece dia 24 de agosto, sábado, às 17h, na livraria Sentimento do Mundo (Rua Barão de Tatuí, 496, Santa Cecília), em São Paulo, contando com a influenciadora literária Tamy Ghannam na mediação do bate-papo de Ana Barros com a escritora Jarid Arraes.
A trama tem como protagonistas, Virginia, Simone e Angela, mãe, filha e neta, respectivamente. O enredo se desenvolve em duas linhas narrativas: uma subjetiva, em primeira pessoa a partir do olhar da jovem, e a objetiva, em terceira pessoa. Enquanto Angela discorre sobre os oito dias vividos após a morte da mãe, a outra narrativa evidencia episódios do passado para explicar atitudes e comportamentos das personagens. As perspectivas se alternam entre um capítulo e outro.
Para a autora, a obra trata do encontro de duas mulheres, avó e neta, em suas solidões, no momento em que suas vidas estão mudando. “Uma precisa compreender a tristeza que existe dentro de si, e a outra revive memórias do passado que invadem o seu dia a dia”, argumenta Ana, e acrescenta: “As duas sofrem de doenças que atingem o cérebro, por isso o livro traz à luz a experiência sufocante vivida por cada personagem, que se assemelham e se distanciam em determinados pontos”.
Uma das qualidades de As luzes de dois cérebros anárquicos está justamente em ilustrar de forma eloquente e delicada os desafios de lidar com a depressão e o Alzheimer, enfermidades que afetam as protagonistas da trama. “O esvaziamento do contato social e o enclausuramento dos pensamentos e da própria personalidade está presente em ambos os processos”, aponta a autora. Habilidosamente ela vai a cada página descortinando os efeitos desses males no cotidiano de cada personagem. O leitor é levado a acompanhar juntamente com cada uma delas esse percurso que perpassa sentimentos e emoções intensas.
Ana compõe cenas e diálogos fluidos sem que pareçam forçados ou inverossímeis. As tramas que orbitam o enredo, como as relações conflituosas entre mães e filhas, relacionamento abusivo, abandono parental e machismo ganham destaque sem que uma sobreponha a outra criando assim uma obra coesa e madura. A autora presenteia o público com um romance que retrata de forma precisa as mazelas que caracterizam o nosso tempo.
Ana Barros é Especialista em Produção de Textos Literários, formada pelo Instituto Vera Cruz (São Paulo) em 2022. Coordena e ministra oficinas de escrita criativa e desde 2021 atua no Clube do Livro Contemporâneas, iniciativa encabeçada pela autora e que busca estimular a leitura de obras produzidas por escritoras brasileiras. A autora paulista também está nas redes sociais (Instagram e YouTube) promovendo formação de mulheres escritoras.
Até fazer a transição recentemente para o universo das letras a jovem atuou numa área que converge com as artes, seu interesse desde o ensino médio. Formada em Design de Moda trabalhou como freelancer em produção de moda e styling, vendedora e assistente comercial. Em 2018 resolveu migrar de carreira depois de participar de uma Oficina de Escrita Criativa ministrada pelo vencedor do Prêmio Sesc de Literatura, Alexandre Marques Rodrigues. “Ali minha percepção sobre criatividade mudou e desde então busco aperfeiçoamento através de estudos na área de escrita e gramática”, revela.
No mesmo ano decidiu dedicar-se à escrita de um romance e realizar o sonho de publicar um livro. Começa então a se desenhar o rascunho do que futuramente seria As luzes de dois cérebros anárquicos. Ana iniciou o processo dissertando sobre a vida de uma mulher que nunca foi mas que poderia ter sido. “Começou com uma investigação interna e uma série de questionamentos. Foi um processo solitário de construção, escrita e estruturação”, explica. A primeira versão desta história ficou pronta em 2020, no entanto, a autora não conseguiu viabilizar a publicação.
Nos anos seguintes aprimorou o texto e foi contemplada no ProAC, programa de incentivo cultural. Com a verba realizou mentoria com a escritora cearense Jarid Arraes. “Joguei fora as 220 páginas do livro que tinha terminado de escrever em 2020 e recomecei o processo, desta vez a escrita foi bem rápida e em 3 meses terminei o que seria a segunda versão do romance”, relata.