As crianças estão com a saúde mental abalada. Será pelo excesso das telas? Pela saudade dos amigos? Pelo medo da pandemia? Distância da escola? Os motivos são vários, e ao mesmo tempo, um só. A escola…que falta!
A Faculdade de Medicina da USP acaba de divulgar um estudo coordenado pelo psiquiatra Guilherme Polanczyk mostrando que uma a cada quatro crianças apresenta quadro de ansiedade e depressão. O estudo monitorou a saúde mental de 7 mil crianças desde junho do ano passado.
A saúde mental das crianças é o ponto nevrálgico que tem mobilizado as escolas a adotarem estratégias que promovam a interação social, através de atividades remotas e ou presenciais. Psicólogos e profissionais da educação dos colégios Gracinha, Equipe e Centro Educacional Pioneiro dizem estar preocupados com a saúde das crianças, que, segundo eles, já não aguentam mais essa pandemia e estão no limite.
No documentário francês “Geração Tela – Uma geração doente?”, do diretor Raphael Hitier, disponível na plataforma de filmes educativos – TamanduáEdu – cientistas estudam os efeitos no cérebro das crianças quando expostas em excesso às telas do computador, celulares, tablets, etc. Psicólogos e pediatras detectam alterações comportamentais como atraso no desenvolvimento da fala, déficit de atenção, transtornos no humor e problemas de interação. O filme mostra uma experiência feita com ratos recém-nascidos que são submetidos a estímulos audiovisuais. Quando colocados juntos dos ratos sem estímulos percebe-se o efeito nocivo da exposição às telas. Os ratos estimulados andam de um lado para o outro, desordenadamente e de maneira impulsiva. Os outros exploram os espaços com cautela e pelos cantos.
“O Equipe continua no ensino remoto, mas abrimos o colégio e chamamos ao presencial aqueles alunos cujas famílias e educadores perceberam um sofrimento maior. Eles têm aula remota através de um telão na sala de aula, e eu os acompanho. É um jeito de estarmos perto, dando o suporte necessário e os ajudando a superar essa fase”, conta a orientadora educacional do Equipe, Mariana Doneaux.
Antes de começar a pandemia, a diretora do Centro Educacional Pioneiro, na zona sul de São Paulo, Irma Akamine, já estudava a suicidologia, projetos destrutivos e lutos para poder lidar com as angústias dos alunos. Desde então, o Pioneiro investe em um trabalho de longo prazo com foco no bem-estar dos alunos. Tem uma equipe estruturada para lidar com questões relacionadas à saúde mental dos alunos, encorpada pela assessoria da suicidologista Karina Fukumitsu e do GEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, da Unicamp.
“O que nos preocupa são os alunos que não interagem. Não abrem suas câmeras, e não conversam com os professores”, explica o orientador educacional do Gracinha, Maurício Walter Moura. Ele conta que a escola tem uma equipe de profissionais das áreas da saúde e educação que está atenta a cada um dos alunos. “Essa equipe estuda, troca estudos de casos com os colegas e está perto do aluno, da sua família e se necessário, dos profissionais da saúde externos que atendem os alunos”, diz.
Para a próxima quinta, dia 24, o grêmio estudantil do Gracinha e o grupo de pais – OPG –organizaram uma grande assembleia intergeracional para discutirem a “saúde mental”. “ Essas rodas de conversa acontecem há muitos anos, e em várias ocasiões. Já falamos sobre drogas, sexualidade e agora é a saúde mental. Pais e filhos são divididos em pequenos grupos, e nunca estão juntos no mesmo grupo. É um formato potente para escuta e reflexões”, conta Maurício.