Colégios brasileiros reforçam cuidados com a saúde mental após casos de violência

Colégios brasileiros reforçam cuidados com a saúde mental após casos de violência

Interromper o ciclo de violência nas escolas passa por escutar as crianças e adolescentes. Colégios particulares relatam uma rotina de atividades para promover a tolerância e mediar conflitos. Os ataques e ameaças no Brasil reforçaram a necessidade de cuidar da saúde mental dos estudantes, já abalada pela pandemia.

Matéria publicada pela CBN em 20/04/2023

Uma escola municipal de São Paulo chamou uma equipe de psicólogos da prefeitura após a disseminação de uma notícia falsa. Um aluno com deficiência física tinha escrito uma carta expressando que estava sofrendo. Nada indicava que ele pretendia agir contra a escola, mas o boato ganhou corpo com as ameaças que já circulavam após os recentes ataques em São Paulo e Blumenau.

A psicóloga Gabriela Gramkow, professora da PUC e supervisora dos profissionais que atuam nas escolas municipais, disse que o mal-entendido foi esclarecido. Mas a causa do boato passou a ser alvo de um longo acompanhamento envolvendo estudantes, professores e a família do aluno:

‘A demanda inicial, que era, ‘temos uma ameaça’, se transformou em ‘olha só, temos aqui um capacitismo que temos que enfrentar para que esse educando tenha o direito de estar na escola e seja respeitado”, diz.

Gabriela Gramkow explica que as escolas precisam escutar os adolescentes para interromper o ciclo de violência:

‘Sem ter acolhimento, sem ter escuta, sem ter aproximação da situação, aí você vai ver situações de solidão. Aí você vai ver isolamento, adolescente evitando a escola. Ou então, se eu vou pra escola, levo uma faca pra poder me defender, se algo acontecer. E com isso você vai ter nesse segundo caso uma ampliação da violência’, conta.

Depois da pandemia, a escola particular Nossa Senhora das Graças, em São Paulo, ampliou a equipe de psicólogos e pedagogos por causa do aumento de situações de conflito, ansiedade e depressão.

O diretor Wagner Borja acrescenta que o colégio se preocupa em promover discussões para enfrentar o isolamento dos alunos:

‘Desde pequenos, no ensino fundamental, eles são acostumados a realização de assembleias de sala em que eles discutem esses temas, essas questões entre eles. As dificuldades de relacionamento, os problemas de turma são solucionados em conjunto nas assembleias de classe’, afirma.

No Colégio Marista Arquidiocesano, um grupo de professores recebeu treinamento de psicólogos. E pelo terceiro ano, uma aula semanal ajuda os adolescentes a lidarem com as emoções.

A coordenadora dos anos finais do ensino fundamental, Simone Dias, diz que a escola incentiva os próprios alunos a ajudar os colegas que podem estar passando por dificuldades:

‘Às vezes o colega não quer vir para a orientação, para a coordenação e dizer ‘não estou bem, estou com medo’, mas o amigo do lado escutou. Porque tem aqueles mais tímidos, mais quietinhos, que acabam ficando sofrendo às vezes em silêncio’.

No Colégio Equipe, os próprios estudantes do ensino médio, acostumados com grupos de discussão, pediram para debater a violência nas escolas em sala de aula.

A diretora escolar Luciana Fevorini entende que abrir espaço de conversa entre os alunos é importante pra promover uma cultura de paz.

‘A gente tem grêmio, conselho de representantes, parcerias com movimentos sociais. Essas ações são importantes para os estudantes perceberem uma diversidade social, política, cultural. Acho que isso é perfeitamente possível de se fazer em qualquer instituição’, diz.

Uma pesquisa divulgada em março pelo Datafolha, ouvindo pais e estudantes de escolas públicas, apontou que dois em cada cinco alunos no Brasil precisavam de apoio psicológico. Quem estuda em escolas com esse suporte se diz mais integrado, feliz e envolvido com o ambiente escolar.