Especialistas aprovam Provão Paulista, mas alertam para desigualdade

Especialistas aprovam Provão Paulista, mas alertam para desigualdade

Provão Paulista, nova forma de ingresso nas universidades públicas estaduais, será exclusivo para estudantes da rede estadual de São Paulo

Matéria publicada no Metrópoles em 08/07/2023

Especialistas em educação avaliam como positiva a utilização do Provão Paulista para estimular o ingresso de estudantes nas universidades públicas de São Paulo, mas apontam dificuldades para que o programa beneficie toda a rede de forma igualitária.

Anunciado pela gestão Tarcísio no final de junho, o novo formato de vestibular será aplicado para os alunos da rede estadual de ensino de forma seriada, com avaliações nos três anos do Ensino Médio. O resultado será usado para acessar universidades públicas estaduais.

Para o diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec, Romualdo Portela de Oliveira, a ideia é positiva. “Aumentar a adesão dos estudantes ao processo seletivo das universidades é muito positivo. É um público que deve de fato ser estimulado ao ingresso na escola”, afirma o pesquisador.

Segundo o governo, apenas 23% dos estudantes da rede pública de São Paulo se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2021. O percentual, também registrado em Roraima, é o menor entre todos os estados brasileiros.

Romualdo diz, no entanto, que a iniciativa precisa ser acompanhada de outras medidas, já que a realidade da rede estadual envolve desigualdades entre escolas. O pesquisador cita a falta de infraestrutura em algumas unidades e a dificuldade para professores se dedicarem integralmente a uma escola.

“Tem uma série de iniciativas que são importantes para que um programa dessa natureza provoque aquilo que ele deva provocar, que é estimular uma maior presença dos estudantes [na universidade pública].”

A importância da equidade

A presidente do Instituto Singularidades, Cláudia Costin, compartilha da opinião. Para ela, o Provão Paulista é positivo por ampliar o acesso dos estudantes, mas é preciso haver investimento em escolas de regiões mais vulneráveis.

“Isso é uma questão que é importante para a educação, exista essa prova ou não: a equidade. A gente normalmente pensa em tratar igual todo mundo, mas não, a gente tem que dar mais apoio àqueles estudantes que mais precisam”, afirma a professora.

Costin elogia o fato de o programa prever um auxílio financeiro aos alunos que forem aprovados nas universidades. A ideia é que os estudantes recebam R$ 800 mensais.

Meritocracia

Para a coordenadora da Juventude na Uneafro Brasil, Débora Dias, o Provão foi anunciado em um momento de grandes mudanças nas escolas, com o Novo Ensino Médio e a ampliação do Programa de Ensino Integral (PEI).

Ela acredita que a proposta, apesar de democratizar o acesso às universidades, tem que ser tratada com cautela. A coordenadora cita, por exemplo, a diferença na oferta de disciplinas básicas para estudantes de diferentes escolas.

“Se você não levar em consideração a conjuntura das escolas públicas nesse momento, esse mecanismo pode se transformar em mais um reforço da meritocracia”, afirma Débora, que também é covereadora em São Paulo pela Mandata Quilombo Periférico.

Meritocracia é um conceito ao qual a esquerda tem aversão, por acreditar que aumenta a desigualdade.