O que fazer para acabar com a violência nas escolas

O que fazer para acabar com a violência nas escolas

Na última segunda-feira, um estudante de 16 anos matou uma estudante e feriu outras três em uma escola pública de São Paulo. Desde fevereiro de 2022, houve 21 ataques cometidos por alunos e ex-alunos, além de notícias muito sérias que alertam sobre a precária saúde mental da sociedade pós-pandemia.

Alexandre Schneider, ex-secretário de Educação de São Paulo e pesquisador no Transformative Learning Technologies Lab (Universidade Columbia), propõe um projeto de gestão que envolve o esforço da sociedade e um conjunto de políticas públicas. Schneider sugere, em artigo publicado na Folha de S. Paulo,  que as escolas realizem pesquisas sobre a qualidade das dimensões do clima escolar, como a infraestrutura da escola, as relações sociais, as regras, a relação da escola com as famílias e a comunidade, as relações de trabalho e a valorização dos profissionais da escola. Em seguida, essas informações devem ser compartilhadas com a comunidade escolar.

Para Marc Brackett, diretor do Centro de Inteligência Emocional da Universidade de Yale, um adulto não pode ensinar uma criança a administrar suas emoções se ela não se conhecer e não estiver bem. A psicóloga Ângela Carbonari, da Escola Tarsila do Amaral, na zona norte de São Paulo, segue a mesma teoria de Brackett.

Angela está atenta às novas famílias que chegam para matricular os filhos e aos alunos já matriculados. Ela observa todas as crianças na escola e as professoras agendam horários com ela para contarem sobre as dinâmicas em sala de aula, a aprendizagem dos alunos e como está a saúde emocional de cada um deles. Na Tarsila, Carandá Educação, Gracinha, Equipe, Magno e Centro Educacional Pioneiro as assembleias são recorrentes entre os alunos de todas as séries e idades.

Para o diretor do Gracinha, Wagner Borja, “estamos vivendo um momento bem complexo, mas tenho convicção de que ter um espaço de diálogo que possibilita os alunos se organizarem e apresentarem as suas questões, contribui muito para um clima mais harmônico e para que os alunos se tornem cidadãos que saiam da escola pensando mais no todo do que só no seu projeto pessoal de vida”.

Para a aluna Nina Filizola, do Gracinha, são nesses momentos de discussão em roda que os problemas ficam visíveis e são discutidos. “O bullying, por exemplo, é algo muito pesado e que pode passar desapercebido”, diz.

Ausônia Donato, especialista em saúde pública e diretora do Colégio Equipe, em Higienópolis, afirma que a saúde do aluno deve estar explícita em seu sorriso, no tamanho da janela do seu quarto, no número de árvores na rua e na quantidade de praças no bairro. Segundo ela, é importante trazer em todas as situações de ensino-aprendizagem uma reflexão sobre a questão da saúde. “Temos de socializar a ideia de que saúde é um direito”, diz. No Colégio Equipe, a disciplina Saúde Pública faz parte do currículo.

No Centro Educacional Pioneiro, mesmo antes da pandemia, já havia um projeto especializado em saúde mental e bem-estar das alunas e alunos. A diretora da escola, Irma Akamine, estudiosa de temas como suicídio, luto e comportamentos destrutivos, destaca que o Pioneiro investe em um trabalho de longo prazo. Tem uma equipe estruturada para lidar com questões relacionadas à saúde mental dos alunos, encorpada pela especialista Karina Fukumitsu e do GEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, da Unicamp.

A diretora do Pioneiro conta que o 6º ano pediu mais aulas de ética e convivência porque os alunos sentiam necessidade de conversar mais sobre tudo o que está acontecendo no mundo. Segundo ela, o colégio investe no bem-estar físico e emocional de todo o corpo docente para que tenha estrutura e capacidade para lidar com cada um dos alunos em suas singularidades.

Também é importante que a comunidade escolar esteja engajada para o sucesso das ações de não-violência. O Centro Educacional Pioneiro criou o Projeto de Mediação em parceria com as Equipes de Ajuda – grupo formado por alunos do F2 e EM eleitos entre os pares – para atuar junto aos colegas com estratégias que favoreçam a convivência escolar harmônica.

 “Sim, os nossos jovens estão mais violentos”, diz a psicóloga e diretora do Colégio Magno, Claudia Tricate, em um dos episódios do “Vamos conversar”, canal de vídeos  no youtube.

Mensagens de ódio, neonazistas, racistas, homofóbicas e cyberbullying nas escolas, nas redes sociais e em grupos de WhatsApp estão preocupando muito pais e gestores.  Para mudar este quadro, algumas escolas assumiram um compromisso pedagógico antirracista, com ações em defesa da uma educação para a diversidade e alertando para a importância de os pais acompanharem com atenção os filhos no mundo virtual. 

Colégio Equipe e a Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) desenvolveram um trabalho com o ong Ação Educativa que ajudou às escolas a olharem para seu espaço, sua comunidade escolar e avaliar como as questões raciais estavam sendo debatidas. “Foi um trabalho muito interessante que envolveu toda a comunidade escolar a estar engajada para as questões raciais”, diz Clélia Rosa, assessora pedagógica do Gracinha. “Estamos em pleno 2023 descobrindo trabalho escravo no Rio Grande do Sul. Estamos vivendo um racismo ambiental, e isso foi alimentado. O que as escolas têm a ver com isso? O que ensinamos sobre valores, sobre ética? Quem são essas pessoas? São muitas camadas juntas e o papel da escola é trazer tudo isso. Não dá para as escolas do Brasil acharem que o assunto não é com elas”, enfatiza Rosa.

Para os educadores essa pauta é importante para alertar a sociedade sobre a necessidade urgente de se investir em ações que promovam a cultura de paz.