Marta Marczyk, doutora pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP
Já não é de hoje que se sabe que um lagarto habita as cercanias da entrada principal da Universidade de São Paulo. Ele está registrado em fotos, em matérias de jornal, e até apareceu na questão 22 do exame da primeira fase do vestibular deste ano de 2024.
Alguns acreditam que foi favorecido em nome de ser, este ano, o ano do dragão, na astrologia chinesa. Tigre asiático aumentando sua influência no mundo. Outros, mais pragmáticos, dizem que é apenas um mascote alimentado pelos seguranças daquela área. Histórias do tal lagarto é que não faltam. A verdade é que esse bicho, que parece viver tranquilo à caça de insetos e sementes, deslizando seu rabo listrado de branco e preto pelo verde gramado, tem um motivo secreto para transitar por anos a fio, não exatamente num portão, mas em seu respectivo duplo: um portal para o conhecimento. Vejamos do que se trata.
À direita de quem entra pelo Portão 1, está o prédio da Fundação Universitária para o Vestibular [Fuvest]. Alguns dizem que o sardão é responsável pela enorme taxa de reprovação nos exames avaliativos. Outros afirmam que ele traz sorte aos que se dedicam aos estudos. Dizem até que se vê uma aura de intelectualidade no reflexo de suas escamas, absorvida da névoa de inteligência que paira na mais conceituada universidade brasileira.
É com uma pegada leve e ágil que ele dá o sinal derradeiro a quem deve adentrar os limites do portal rumo ao futuro, quando não brilhante, no mínimo atuante, consciente, participativo das grandes operações do desenvolvimento e da divulgação da ciência.
Em comemoração aos 90 anos da USP, parece que o lagarto tem reivindicado até participação na sua fundação. Coisa pouco provável, já que a média de vida desses répteis é de, quando muito, pouco mais de dez anos.
No entanto, a conexão do réptil com a história da Universidade não se limita a isso. Ele se diz aparentado com alguma espécie de dinossauro e tem, graças a essa ancestralidade robusta, sobrevivido às ameaças de extinção provocadas, talvez, pelo andamento do mundo, que tem sido excessivamente dirigido pelas liberdades individuais.
Em face de tamanha vitalidade, espera-se que tenha vida longa, que proteja essa nossa universidade pelos séculos dos séculos, e que continue trazendo para ela gente que goste de pesquisa, gente que quer desenvolver suas próprias capacidades e, principalmente, que anseie deleitar-se no mundo coletivo do conhecimento.
Parabéns à USP e ao lagarto guardião.