Edtechs coletaram dados dos alunos durante ensino remoto
A Human Rights Watch , organização internacional de direitos humanos, fez uma investigação internacional que analisou 165 edtechs utilizadas durante o ensino remoto por dezenas de países, incluindo o Brasil, e detectou que milhares de crianças passaram a ter seus dados – localização e comportamento – coletados por sites e aplicativos que foram recomendados por governos locais para educadores, pais e alunos.
O pesquisador na área de dados do TLTL, Tranformative Learning Technologies Lab da Universidade de Columbia, Rodrigo Barbosa e Silva, diz que há tempos essa é uma discussão nos meios acadêmicos. “A coleta começou a ficar mais evidente nas escolas, principalmente com a inesperada pandemia que levou o principal lugar de educação do ambiente físico escolar para a internet. Do dia para a noite, escolas começaram a fazer uso ainda mais intenso de plataformas para continuarem as atividades com alunos. As famílias também perceberam que estudantes ficaram dependentes quase que exclusivamente de recursos online para a continuidade da educação”, conta.
Segundo o pesquisador, existe um “truque” comum que empresas de tecnologia usam é oferecer plataformas de educação “grátis” para governos. Sob o manto da gratuidade, muitas parcerias entre empresas e redes públicas são celebradas sem grande rigor. Esses serviços têm custos escondidos ou lucros indiretos (como o acesso aos dados dos alunos).
Barbosa explica que embora a LGPDP preocupe-se com a localização em território nacional dos dados, a arquitetura atual dos sistemas não estabelece uma fronteira clara entre o que é “dado” e o que é “algoritmo”: ambos estão fundidos em novas metodologias de programação em inteligência artificial como o Deep Learning. “Uma vez que o programa usa os dados dos usuários para se auto aprimorar, ele pode descartar os dados rapidamente. Portanto, muitas das proteções que temos são obsoletas: o uso de dados pessoais na educação permanece uma perigosa caixa preta que precisa ser aberta pela sociedade”, diz.
Especialista e pesquisador na área de proteção de dados, Barbosa diz que hoje em dia é muito difícil identificar um campo de ação social que não esteja mediado por tecnologias e dados. Para ele, os educadores, pais e as autoridades devem zelar pelo bem-estar dos alunos que fazem uso intenso de plataformas e dispositivos que coletam seus dados. Assim o fazendo, mais do que cumprindo a obrigação de educar, a sociedade fornecerá o direito à educação contemporânea e integral para uma geração que está sendo moldada pela interação com tecnologias e dados.