Como escolher uma escola para uma geração 100% digital? Veja 10 dicas essenciais

Como escolher uma escola para uma geração 100% digital? Veja 10 dicas essenciais

Além da mensalidade e da proximidade física, é importante avaliar pontos como projeto pedagógico e plataformas digitais.

Matéria publicada no Estadão em 20/08/2023

A importância e o peso da escolha de uma escola podem gerar inseguranças nos pais: o que, afinal, é importante levar em consideração nesse momento?

Cláudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, destaca que essa avaliação começa fora da escola. “Minha primeira dica: vá até o local na hora da saída dos alunos e observe os pais que vão buscá-los”, diz.

“Veja se são famílias parecidas com a sua, se são pessoas com quem você conversaria. Porque é lá que os filhos farão amizades – e, em certa fase da vida, eles ouvirão mais os amigos do que os pais.”

De fato, a escolha da escola envolve muitas vertentes – afinal, a instituição de ensino formará seres humanos e cidadãos. Confira, abaixo, dez dicas para escolher a escola ideal para o seu filho.

Custos com mensalidade e matrículas

O fator financeiro é um dos primeiros a ser considerado pelos pais – e isso é completamente compreensível. Afinal, a mensalidade e a matrícula da escola precisam caber no orçamento da família.

Além do valor em si, é essencial que os pais estejam atentos a como a instituição de ensino realiza essas cobranças (e como as reajusta). A Lei nº 9.870, conhecida como Lei da Mensalidade Escolar, determina, por exemplo, que o valor só pode ser reajustado uma vez anualmente e que deve contemplar a variação inflacionária do ano anterior. Além disso, os aumentos dos custos da instituição (como salário dos funcionários, manutenção e infraestrutura) devem ser comprovados aos pais.

Considere também se a escola supre outras demandas das crianças. Se elas realizarem atividades extracurriculares por lá (como aulas de teatro, de artes, de inglês), a família não precisará arcar com cursos livres.

Projeto pedagógico

O projeto pedagógico define o “DNA” da escola, ou seja, como a instituição funciona e como ela dá atenção a cada fase de desenvolvimento e aprendizado dos alunos.

É preciso avaliar, por exemplo, se a escola optou por ter um coordenador pedagógico para cada fase escolar: um profissional que seja especializado na faixa etária dos alunos e que seja capaz de atender as demandas das crianças ou adolescentes e de acompanhar de perto as transformações daquela geração.

Além disso, é importante que a escola seja gerida por educadores. Por vezes, empresários que possuem negócios em outros ramos (bares, restaurantes, escritórios, etc) decidem investir também em uma instituição de ensino, mas não são especializados na área e nem acompanham o dia a dia dos alunos.

Projeto político

O nome deste quesito, “projeto político”, pode assustar à primeira vista. Mas ele não está ligado exatamente às eleições ou à preferência por um candidato ou outro. Na verdade, o projeto político é parte do projeto pedagógico e mostra como a escola está engajada com princípios da ética e da cidadania.

Tenha em mente que a escola cumpre um papel político na sociedade, pois é um importante ator social – afinal, auxilia os alunos a se desenvolverem enquanto cidadãos críticos. Por isso, é essencial que a estratégia da escola esteja alinhada com as famílias.

Infraestrutura

O ambiente físico da escola – e seus recursos – também é importante na hora da escolha. E essa avaliação varia de acordo com a idade das crianças ou adolescentes.

A educação infantil deve ter espaço para que as crianças possam brincar e se desenvolver: parquinhos, salas de brincadeira e de artes, pátios. Laboratórios de química e quadras poliesportivas, por exemplo, são essenciais para os estudantes dos ensinos Fundamental e Médio.

Confira também as condições de acessibilidade – os espaços físicos devem ser acessíveis a todos – e a luminosidade natural (ganha pontos quem tem áreas ao ar livre e espaços verdes).

No Liceu de Artes e Ofícios em SP, alunos criam programações que podem ser aplicadas a robôs
No Liceu de Artes e Ofícios em SP, alunos criam programações que podem ser aplicadas a robôs Foto: Liceu de Artes e Ofícios

Plataformas digitais

Vivemos em uma era digital – e isso é fato. Mas as crianças e os jovens também não devem passar o dia todo olhando para telas de computadores e tablets.

Os pais devem avaliar como as escolas introduzem computadores e outras tecnologias no dia a dia dos alunos, tendo em mente que esses aparelhos podem ajudar no aprendizado, mas que devem ser combinados a outros métodos educacionais.

Currículo e experiência dos professores e gestores

Você sabe, afinal, quem ministrará as aulas para o seu filho? Há escolas que divulgam os currículos dos professores e gestores em seus sites. Preste atenção a alguns fatores: se o professor costuma trabalhar na mesma escola por bastante tempo e se ele tem experiência na área de ensino.

Para Claudia, contudo, não é essencial avaliar se os profissionais possuem títulos como mestrados e doutorados. “Há pesquisas nos Estados Unidos e na Europa que mostram que mestrado ou doutorado não têm impacto na aprendizagem”, afirma. “Porque o mais importante é saber como se o professor domina o tema dele e como ele o ensina aos alunos. Afinal, ele pode dominar os conhecimentos e não ser um bom professor”.

Ensino tradicional versus ensino ‘progressista’

O conteúdo que o jovem aprenderá na escola – e como aprenderá – também é primordial no momento da escolha da instituição ideal. Os pais podem optar pelo ensino tradicional ou pelo progressista, aquele que prioriza uma educação mais contemporânea e que incentiva os alunos a pensarem por si próprios.

Um exemplo simples: no currículo mais tradicional, Grécia e Roma são temas iniciais do estudo de História Antiga. O olhar mais progressista e voltado ao cenário regional considera, nesse tópico, os estudos das culturas inca, maia e asteca.

Para Cláudia, em tempos de extrema revolução digital, a capacidade de pensar é ainda mais necessária. “Com a Inteligência Artificial, veio o receio de robôs substituírem humanos em postos de trabalho. Por isso, é ainda mais importante ensinar os alunos a pensarem sozinhos, a colaborarem com seus pares, a trazer sua contribuição para a sociedade – coisas que robôs não são capazes de fazer”.

Proximidade física e contato com a gestão

Estudar em uma escola próxima à residência é sinônimo de qualidade de vida e facilidade para os alunos. Mas ter a instituição perto é também uma grande vantagem aos pais, que podem estreitar seus laços e relações com a escola.

“É importante saber que a escola não deve ser uma espécie de “babá” dos filhos”, diz Claudia. “Os pais devem observar as crianças, acompanhando sua saúde mental, identificar se ela está, por exemplo, sofrendo ou praticando bullying”. Se algum problema for identificado em casa, os pais devem ser sempre recebidos na escola para discuti-lo.

Competências socioemocionais

Inseridas nas novas diretrizes propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as competências socioemocionais envolvem o estudo das emoções. São a capacidade de compreender sentimentos e aplicá-los em ações: a curiosidade em aprender ou investigar algo novo, o foco para terminar uma tarefa ou atingir um objetivo, o autocontrole em situações adversas.

As escolas, atualmente, devem desenvolver os alunos além do currículo tradicional, e as competências socioemocionais são essenciais para que eles se desenvolvam enquanto seres humanos que vivem em sociedade.

Direcionamento para o vestibular

Aqui, é importante traçar o plano de educação para os filhos: ele seguirá na mesma escola desde a Educação Infantil até o Ensino Médio ou mudará de instituição quando for mais velho?

Se os pais optarem pela segunda opção, o direcionamento para o vestibular não precisa, necessariamente, ser uma preocupação na escolha da escola. Mas, se a ideia é que a criança cresça e se forme na mesma instituição, é interessante já avaliar esse quesito.

E as matérias que estão sendo ensinadas não são o único fator decisivo. Para Cláudia, a avaliação deve ir além delas. “Há escolas que não colocam ênfase quase nenhuma no Enem ou vestibulares e têm ótimo resultados”, diz. “Porque são escolas que ensinam a pensar, e cada vez mais os vestibulares enfatizam a capacidade reflexiva do aluno, que é o que ele precisará na universidade”.