Relações entre educação e mudanças climáticas abrem debates no segundo dia do seminário “Educação na era das transições” do Instituto Unibanco

Relações entre educação e mudanças climáticas abrem debates no segundo dia do seminário “Educação na era das transições” do Instituto Unibanco

Realizado em São Paulo, encontro aborda de que forma as grandes mudanças mundiais, como as novas tecnologias e as transformações demográficas, se relacionam com a educação

“Emergência ambiental: do crescimento infinito à crise existencial” foi o tema da mesa de abertura do segundo dia do seminário “Educação na era das transições”, realizado em São Paulo pelo Instituto Unibanco. O tema geral do evento é como as grandes mudanças pelas quais o mundo passa – as demográficas, climáticas, sociais e tecnológicas – impactam a educação.

A mesa inicial teve como debatedores Ana Toni (Secretaria de Mudança de Clima do Ministério do Meio Ambiente), João Marcelo Borges (Instituto Unibanco) e Natalie Unterstell (Instituto Talanoa), com moderação de Lívia Menezes Pagotto (Instituto Arapyaú/Uma Concertação pela Amazônia).

Em sua fala, Ana Toni destacou a necessidade de o Brasil realizar uma adaptação em todos os setores para lidar com a emergência ambiental. “A crise do clima é um fenômeno humano, mas ela abre também uma oportunidade para o Brasil liderar pelo exemplo. O que a gente precisa é de um novo modelo de desenvolvimento, com tecnologia, ciência e educação”, afirmou.

Natalie, por sua vez, refletiu sobre as transformações necessárias na educação. “Será que estamos promovendo uma educação considerando as mudanças climáticas? A transição mais difícil é a transição mental. O clima que conhecemos não existe mais. A educação tem o poder de assimilar novas informações, calcular riscos e saber responder a esse fenômeno. Estamos falhando nisso, não conseguimos virar a página e encarar a nova realidade”.

Já João Marcelo Borges questionou o que tem sido desenvolvido a partir do conhecimento que já possuímos sobre as mudanças. “Será que estamos fazendo a transição da ideia de crescimento infinito para essa emergência existencial? Sabemos de muita coisa e não estamos tomando as decisões com base no nosso conhecimento”, ponderou.

Combate à evasão escolar                                                                        

O segundo dia do seminário também foi marcado pelo lançamento do Hub Brasil FAIrLAC, uma parceria entre Instituto Unibanco e BID que vai utilizar inteligência artificial para apoiar gestores escolares na tarefa de evitar o abandono e a evasão escolar. A apresentação foi realizada por Ricardo Henriques (Instituto Unibanco) e Marcelo Perez Alfaro (BID).

Marcelo Perez falou sobre a parceria, que se baseia em dados públicos para gerar insights que ajudem os educadores a darem tratamento prioritário e personalizado para os estudantes que apresentam maior probabilidade de evadirem ou abandonarem a escola. “O desafio que temos na implementação é o de como explorar esses dados, e como podemos colocá-los nas mãos dos nossos professores e diretores para que sejam utilizados de uma forma efetiva”, afirmou.

Como lembrou Ricardo Henriques, a parceria vem ajudar o Espírito Santo em um processo que já vinha sendo implementado de uso de dados contra a evasão e o abandono: “O que a gente está fazendo aqui é tornar público uma ação que já está funcionando, tendo a expectativa de contribuir para resolver questões que ajudem a garantir o direito desses jovens na educação”.

As transições e a escola

Após o lançamento, o painel de encerramento teve como objetivo promover uma reflexão final sobre o tema geral do Seminário: a educação em transições. A conversa teve a participação de Cida Bento (CEERT), Claudia Costin (Instituto Singularidades), Valter Silvério (UFSCar) e Vitor de Angelo (Secretaria de Educação do Espírito Santo), com a mediação de Ricardo Henriques (Instituto Unibanco).

Para Claudia Costin, é importante pensar numa escola que promova o protagonismo juvenil. “Temos que formar o jovem para se sentir um ator relevante no seu próprio processo de aprendizagem e das múltiplas comunidades que se conectam”. Vitor, por sua vez, lembrou que a escola é um espaço que oportuniza a reflexão. “Por isso, ela precisa ser cada vez mais crítica, plural e prática”, afirmou.

Já Valter Silvério lembrou a importante ampliação de direitos na sociedade brasileira: “Vemos, hoje, uma ampliação dos direitos dos grupos que foram subalternizados durante o modelo industrial. Mulheres, negros e indígenas começam a reivindicar seus direitos, e isso significa uma ampliação da humanidade”.

Complementando a fala de Valter, Cida Bento lembrou que 61% da juventude brasileira é negra. “Qualquer coisa que quisermos fazer no campo do Ensino Médio, Superior ou do Profissionalizante, passa por considerar esse sentimento de ameaça, de existir, de caminhar, que abarca a juventude negra, principalmente nossos meninos”, explicou.

Em sua fala de encerramento, Ricardo Henriques lembrou uma frase do cantor Siba que fez parte do vídeo de abertura do evento: “Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar”, e propôs: “Que tal nós todos darmos um passo juntos para mudar esse lugar? É essa a expectativa que a gente tem com esse mergulho de um dia e meio: de produzir mais reflexão, mais inquietação, mais sentido de pertinência para os desafios que estamos enfrentando. Porém com as expectativas de que cada um e cada uma de nós seja capaz de produzir em transformações consistentes que sonhem nossos jovens e que a gente seja capaz de fazer com que o Brasil realmente mude de patamar e se direcione para um futuro que sempre foi projetado, mas que agora talvez tenha capacidade de ser realizado”.

Para conferir como foram os debates no primeiro dia do seminário, clique aqui.