Será esse o Brasil que queremos?

Por Paulo Blikstein

Com alunos apaixonados pela construção do conhecimento e por suas escolas? Com professores fascinados por ensinar; com alunos em grupos criando projetos maravilhosos com as novas tecnologias; com todas as salas de aula transpirando ideias, inovações e invenções que resolvem os problemas e otimizam as soluções? Com alunos que sabem lutar por seus direitos, com pensamento crítico e entendendo a complexidade do mundo moderno?

Se esse é o Brasil que queremos, temos de ter foco e pôr mãos à obra. Não podemos mais ficar só no campo das ideias. Temos de ter clareza sobre qual tipo de jovens queremos formar. Queremos uma nova geração criativa, ou que memorize informação? O Brasil não pode mais fingir que pode fazer tudo ao mesmo tempo, e que um sistema educacional pode ser construído sem essas escolhas, pois são elas que determinarão o Brasil do futuro.

A Educação no Brasil avançou bastante nos últimos 20 anos, criou uma base curricular e transformou a Educação em prioridade absoluta. Já produzimos uma visão educacional poderosa, baseada nas ideias de Paulo Freire. E a partir dela, temos claro que a Educação deve ser instrumento de justiça social e de redução de desigualdades; que o professor tem de ser parceiro do processo de aprendizagem e que precisamos aproximar o conteúdo escolar da realidade do aluno.

O Brasil avançou na infra infraestrutura e na organização, porém estagnou em um projeto intelectual. No momento, o projeto do Brasil é uma mistura de ideias sem precisão para orientar ações concretas e dar identidade à Educação brasileira. Frases como “precisamos de educação de qualidade!” e “Educação é prioridade” são lançadas de forma aleatória.

Não adianta as secretarias de educação – estaduais e municipais – e escolas privadas levarem seus professores às expedições internacionais para conhecerem ideias inovadoras na Educação, se antes não se apropriarem da teoria educacional por trás de cada uma dessas experiências. É necessário ter o referencial teórico para entender por que elas funcionam. A inovação pela cópia e sem conhecimento é receita para o fracasso.

Mas enquanto não se define os rumos da Educação brasileira, existem medidas que podem ser trabalhadas em paralelo e que contribuirão para qualquer modelo de Educação que vier a ser adotado.

  • Fortalecer e renovar as escolas de Educação e de formação de professores. Não se trata de negar a tradição intelectual que já temos, e sim de adaptá-la aos novos tempos e levar esse novo oxigênio para a formação de professores.
  • Ouvir mais os educadores e pesquisadores no debate educacional. Vozes de outros especialistas – economistas, secretários de educação, estatísticos e tecnologistas – não podem ter maior relevância frente aos especialistas da Educação.
  • Um novo tipo de gestor público educacional. A equipe que compõe o Ministério da Educação deve ser formada sobretudo por especialistas em Educação. Não é o que acontece hoje, por que no Brasil não existe programas que formem esses profissionais. A equipe do MEC deveria ser experts em teoria educacional, ciências do aprendizado, estatística, mineração de dados e gestão pública. Devemos criar programas para a formação desse novo tipo de profissional – nas nossas universidades ou no exterior.
  • Atualização permanente da BNCC. A base deve ser atualizada para acompanhar as mudanças da sociedade, das ciências e da tecnologia. Para tanto, é necessária a criação de um comitê técnico permanente para monitorar a atualidade da base e preparar suas revisões.
  • Eliminação da distração dos rankings e testes e medir o que é realmente importante. Os rankings viraram uma obsessão nacional. É importante mais rigor na divulgação desses estudos e aprender a interpretá-los. No entanto, não basta medir com rigor; é preciso medir o que interessa.

Paulo Blikstein é professor do Teachers College, Universidade de Columbia e professor associado ao ciências da computação no mesmo departamento, pesquisando como as novas tecnologias podem transformar a aprendizagem da ciência, engenharia e matemática. Blikstein criou os primeiros FabLabs e Makerspaces educacionais do mundo, e foi pioneiro no campo da mineração de dados multimodais e de learning analytics. Ele também dirige o projeto FabLearn, que dissemina a educação maker em 22 países. Engenheiro pela Poli-USP, mestre pelo MIT Media Lab e doutor em Ciências da Aprendizagem pela Northwestern University, Blikstein recebeu o National Science Foundation Early Career Award e o AERA Jan Hawkins Early Career Award.

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