Cartas e batalhas Pokémon ganham nova geração e voltam a ser febre nas escolas

Isabela Moya para o Estadão

Paulo Cochar, de 8 anos, demonstrou interesse pelo jogo de cartas no ano passado, mas já era familiarizado com o universo de Pokémon há bastante tempo. “Minha mãe jogava Pokémon Go desde que eu era ‘pequeno’, e ainda joga, aí eu comecei a gostar. Um dia, meu amigo trouxe para a escola e todo mundo da turma resolveu trazer também, as cartas ficaram na moda”, conta o menino. Cinara, mãe do menino, já conhecia a franquia desde a juventude, mas não tinha tanto interesse. “Lembro que, nos anos 90, fui levar meus primos no cinema pra assistir ao filme. Eu não entendi nada, não me interessava.” Tudo mudou em 2016, quando surgiu o Pokémon Go, um jogo para celular da franquia com realidade aumentada. “Eu gosto de tecnologia e, quando o jogo chegou, foi aquela ‘febre’.”

Enrico Thomeu Toaldo, de 10 anos, é fã do jogo de cartas há quatro anos. Maraisa Thomeu, mãe do garoto, conta que as batalhas estão em alta também em Curitiba, onde vivem. “Toda sexta-feira no colégio é dia do brinquedo, todos os alunos levam e batalham.” Ela até já tentou brincar com o filho, mas diz não entender todas as regras do jogo.

Na Escola Tarsila do Amaral, na capital paulista, o cenário não é diferente: as cartas de Pokémon têm dominado a tradicional “sexta-feira do brinquedo”, afirma Patricia Bignardi, coordenadora pedagógica do infantil. “Quando as crianças negociam a troca de cartas, algumas ficam felizes, eufóricas, mas outras se arrependem, acham que a troca não foi justa. Quando é necessário, os professores entram para mediar alguns conflitos. São momentos valiosos para se trabalhar o ‘saber conviver’.”

Em bancas de jornal, é possível encontrar cinco cartas por preços mais baixos, inferiores a R$10. Já os pacotes para as “batalhas” custam mais caro, de R$ 30 a R$ 60. “É muito difícil ter uma carta rara, nunca consegui uma”, conta Paulo. “Tem carta de R$ 4 mil”, diz o menino, entusiasmado. “A gente explicou que não dá para ficar comprando vários pacotes porque fica caro”, diz Cinara.

Sala de aula

E não é apenas no horário do recreio que Pokémon se faz presente. Rafael Antunes, diretor da Escola Vereda, em São Paulo, conta que, percebendo o interesse dos alunos pelo assunto, decidiu incorporar a temática do jogo na disciplina de Ciências, para tratar de Zoologia e Botânica, e na de Biologia, para tratar de Sistemática e Genética.

Ele diz que muitos estudantes estão levando as cartas ultimamente, e que quando o jogo para celular surgiu, muitos professores estavam preocupados com os estudantes só querendo saber de jogar. “Foi um jogo que incomodou pela inovação, porque precisava se locomover. Ele trabalha com realidade aumentada, então ele foi bem diferente de tudo que a gente conhecia em 2016”, lembra. Foi nessa época que o então professor decidiu que faria proveito do jogo para ensinar conceitos de biologia. “Eu podia ser aquele professor que fala ‘desligue e guarde seu celular, Pokémon Go é um problema’, mas decidi me aproximar disso e ver o que que eu posso tirar de bom, olhando para metodologias ativas de aprendizagem’, explica.

Nas aulas de ciências e biologia, Antunes utilizou Pokémon para ensinar sobre os reinos animal e vegetal. “Muitas vezes a gente vai falar de animais que eles nunca viram, pode ser chato em alguns momentos, e como os ‘monstrinhos’ remetem a um lagarto, a um dinossauro, a um pássaro ou até uma planta, desenvolvi uma atividade para os alunos compararem os animais com os personagens do jogo.”

Antunes comenta que Pokémon parece ser atemporal. “Existia quando eu era criança e está em alta até hoje.” Isso porque a franquia consegue abranger um público bastante diverso, de diferentes faixas etárias e interesses – seja para aqueles que gostam de jogar jogos físicos, online ou assistir a desenhos animados. “Eu vejo que tem um movimento de quem viveu isso quando era mais jovem e agora são pais ou têm irmãos mais novos e passam isso para frente.”

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