Estudantes do ensino médio têm aulas e professores que são do ensino superior

Estudantes do ensino médio têm aulas e professores que são do ensino superior

Colégios apostam em parcerias com Ibmec, Mackenzie, ESPM, FGV, Mauá e Istituto Europeo di Design, entre outras faculdades

Matéria públicada no Estado de São Paulo em 11/10/2022

A estudante Milena Koronfli, de 16 anos, ainda nem concluiu o ensino médio, mas já tem uma experiência com duas instituições de ensino superior: Ibmec e Fundação Getulio Vargas (FGV). Milena cursou duas disciplinas eletivas ministradas por professores dessas universidades por meio de uma parceria com o Colégio Pentágono, onde cursa a 2.ª série do ensino médio.

A estudante afirma que a oportunidade enriqueceu seu conhecimento sobre negócios e aguçou seu senso de responsabilidade social, o que corrobora com sua escolha profissional. “No semestre passado, cursei uma disciplina sobre modelo de negócios sustentáveis do Ibmec, fiz um projeto para a criação de uma empresa de painéis solares. Neste semestre, estudei empreendedorismo com a eletiva da FGV. Penso em estudar Engenharia e depois montar um negócio na área de sustentabilidade.”

Com a criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio, os estudantes passam, obrigatoriamente, a escolher um itinerário formativo entre cinco campos do conhecimento: Linguagens e suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; formação técnica e profissional.

Além da formação específica, o aluno precisa concluir 1.800 horas – em três anos – da formação geral básica com os conteúdos clássicos, como Língua Portuguesa e Matemática. As escolas podem adaptar currículos com base nessa legislação. No Pentágono, por exemplo, os itinerários formativos são: negócios e empreendedorismo; ciências e Matemática; vida e natureza; artes, linguagem e Ciências Humanas.

Milena optou pelo itinerário de negócios e empreendedorismo e escolheu as eletivas relacionadas. A estudante quer cursar Engenharia Elétrica no ensino superior e conta que o contato com os professores universitários ajuda abrir os horizontes e “sair da bolha do ensino médio.”

As disciplinas eletivas do Colégio Pentágono realizadas em parceria com instituições de ensino superior são ministradas pelos professores universitários no formato online, permitindo que alunos de diferentes unidades possam estudar juntos. Além de Ibmec e FGV, o Pentágono tem parceria com outras universidades, como o Instituto Mauá – com foco em tecnologia e disciplinas como “motores de combustão” e “aplicativos móveis para Android” – e com o Istituto Europeo di Design – uma rede internacional de escolas de design, que ministra as eletivas de “introdução e fundamentos para ilustração, design e arquitetura” e “produção audiovisual”.

"No semestre passado, cursei uma disciplina sobre modelo de negócios sustentáveis do Ibmec, fiz um projeto para a criação de uma empresa de painéis solare", conta a estudante Milena Koronfli, do Colégio Pentágono.
“No semestre passado, cursei uma disciplina sobre modelo de negócios sustentáveis do Ibmec, fiz um projeto para a criação de uma empresa de painéis solare”, conta a estudante Milena Koronfli, do Colégio Pentágono. Foto: Colégio Pentágono

As eletivas abordam, ainda, outros temas, como empreendedorismo, educação financeira, globalização e até como driblar a timidez e o medo de falar em público (em uma disciplina oferecida em parceria com o Instituto Mauá). Todo aluno do ensino médio é incentivado a cursar pelo menos uma eletiva por semestre. A carga horária varia de uma a três horas por semana. No portfólio da escola, há pelo menos 50 opções – nem todas são oferecidas em parceria com instituições de ensino superior.

Bruno Alvarez, vice-diretor de Inovações Pedagógicas do Pentágono, explica que as eletivas possibilitam aos alunos ter mais certeza sobre suas escolhas futuras, pois logo no ingresso ao ensino médio os estudantes têm de optar por um dos quatro itinerários formativos: negócios e empreendedorismo; ciências e matemática; vida e natureza; artes, linguagem e ciências humanas.

“Nós antecipamos aos alunos a reflexão sobre as escolhas que vão fazer. Incentivamos a pensar sobre suas carreiras, que hoje são escolhidas muito antes. Trazemos a universidade para dentro da escola para ajudar os alunos a fazer escolhas melhores”, diz Alvarez. O vice-diretor explica que nestas eletivas há uma preocupação em dar o tom universitário, mas, ao mesmo tempo, adaptar o conteúdo para a linguagem dos alunos.

Fotografia e arte

Os alunos da Escola Gracinha também têm oportunidade de viver uma mostra da vida universitária antes de concluir a educação básica. A escola tem duas disciplinas eletivas em parceria com instituições de ensino superior: “olhar de lagartixa na paisagem da cidade” do Mackenzie – que propõe aos alunos desenvolver a percepção das cidades contemporâneas por meio de desenho, pintura, fotografia, vídeo, leitura, grafite, digital, debate, entre outras linguagens – e “produção fotojornalística com celular”, da ESPM, em que o aluno aprende os conhecimentos éticos, técnicos e estéticos para o registro de imagens com telefone celular.

Paulo Rota, orientador do Gracinha, afirma que essas parcerias são possíveis graças à mudança do ensino médio, e ajudam a fortalecer o projeto de vida dos estudantes, iniciativa que também está prevista na BNCC. O documento salienta que é a função da escola promover a formação integral do estudante, colaborando para que ele defina uma trajetória, construa identidade e realize seus desejos.

“Essas eletivas são ministradas por professores das próprias universidades, o que em si mesmo permite aos estudantes uma experiência diversa. Os diferentes perfis de estudantes se beneficiam da parceria e de uma maior possibilidade de escolhas. Pretendemos ampliar essa parceria para outras instituições de ensino superior, de modo a oferecer um leque ainda maior de possibilidades de escolhas aos estudantes”, afirma Rota.

Prontos para o Enem

Além de o contato com as universidades proporcionar que os alunos cheguem ao ensino superior já um pouco experimentados nos temas correlatos, ajuda também a pavimentar o caminho desses estudantes até o curso de graduação. Isso porque, alinhado às mudanças do ensino médio, o Ministério da Educação também anunciou que fará adequações no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir de 2024. O exame seguirá sendo aplicado em dois dias, mas haverá uma redistribuição dos conteúdos.

Como adiantou o Estadão, o primeiro dia de provas será igual para todos os candidatos, com questões obrigatórias das disciplinas de Matemática, Língua Portuguesa e Redação. Já no segundo dia o candidato poderá escolher a prova direcionada a um de quatro blocos: Linguagens, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Matemática, Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Matemática, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.